Seguindo uma média de 21 casos por dia, os últimos meses foram marcados por muitos acidentes de trânsito envolvendo moto no Distrito Federal. De acordo com o Departamento de Trânsito do DF (Detran DF), apenas nos 6 primeiros meses deste ano, a capital já registrou mais de 3700 acidentes com motocicletas.
As manobras arriscadas, a alta velocidade e a embriaguez são citados como as causas principais desses acidentes. “A combinação da velocidade alta com a imprudência nas rodovias são sinônimos de acidentes fatais. Observamos que muitos motociclistas fazem o zigue-zague no corredor entre os veículos, não reparam o ponto cego dos outros motoristas”, cita a diretora de Educação no Trânsito do DER, Jucianne Nogueira. As autuações por não usar o capacete totalizaram 659 até o mês de setembro. Trata-se de uma infração gravíssima prevista no Código de Trânsito Brasileiro (CTB) e que, além da multa de R$ 293, leva à suspensão do direito de dirigir e à retenção da moto. A conta engloba os números do Detran, DER e Polícia Militar (PMDF).
O número de motociclistas mortos, no entanto, caiu de 4, no primeiro semestre do ano passado, para 30, o que representa uma redução de 27%. O Detran, por sua vez, atribui essa queda às campanhas educativas realizadas ao longo do ano.
No ano passado, por exemplo, o Detran lançou uma campanha voltada para os motociclistas que estava presente tanto em outdoors fixados em pontos de ônibus quanto em inserções na TV e no rádio. O lema era Sobre duas rodas, a vida é um alvo fácil. O Departamento investiu R$ 2,8 milhões nesta iniciativa com o objetivo de reduzir os acidentes de trânsito envolvendo as motos, além de alertar sobre o respeito à velocidade das vias. Ao lado do Departamento de Estradas de Rodagem do Distrito Federal (DER), a ação visava atingir esse público, considerado vulnerável pelos especialistas.
Outras estratégias utilizadas pelo Detran nas ruas são blitzes educativas, em que os condutores são parados e orientados, além de visita aos pontos de encontro de motociclistas que trabalham com delivery e palestras em eventos, instituições públicas e privadas, entre outras atividades. “A educação é um pilar no trânsito que, se bem seguida, reduz e pode até excluir esses acidentes que ocorrem”, frisa o Diretor de Educação do Detran, Gustavo Amaral.
O órgão também criou um ponto de apoio ao motociclista (PAM) no início do Lago Norte, próximo ao shopping Iguatemi. “Ali, os motofretistas podem descansar, carregar seus celulares, dar uma paradinha”, explica Jucianne. Nas blitze do DER, há, ainda, orientações sobre crianças nas motos. “Só a partir dos dez anos [é permitido o transporte de crianças] e, obviamente, de capacete”, completou.
Educação e prevenção
Como explica Davi Duarte, presidente do IST (Instituto Brasileiro de Segurança no Trânsito) e professor da Universidade de Brasília (UnB), o problema começa antes mesmo do motociclista tirar sua carteira. “Sabemos que a formação do motociclista, tanto no DF quanto fora, é muito ruim. Sem contar que, grande parte desses motoristas começam a pilotar antes de adquirir a carteira”, ressalta o docente. “Muitos dos acidentes envolvem motociclistas sem carteira, e sem uma formação adequada, o motorista não reconhece riscos e não sabe quais as situações perigosas”, acrescentou Davi. O especialista destaca ainda, como um terceiro agravante desta situação, a falta de conhecimento da anatomia da moto. “A maior parte dos motociclistas desconhecem, por exemplo, a menor distância de frenagem entre o freio dianteiro e o traseiro”, pontuou o professor.
Há, segundo ele, dois níveis de prevenção. “O primário é evitar que a colisão ocorra e diminuir as consequências. Aqui, diferentemente do carro, qualquer tipo de acidente gera lesões. Em uma queda, por exemplo, há, no mínimo, um arranhão”, explica Davi. No nível primário, também é contemplado a melhora na formação do motociclista, de reconhecimento de riscos e de pilotagem defensiva. No nível secundário, de acordo com o especialista, encontra-se a redução de danos a partir da vestimenta adequada.
Motos, de acordo com Davi, são 20 vezes mais perigosas que carros. “Há vinte vezes mais mortes e lesões. Quase metade dos mortos em todo o país são motoqueiros, e 80% dos feridos hospitalizados no Brasil dirigiam motos. Dados do DPVAT mostram que 78% das pessoas que ficam com lesões irreversíveis após um acidente de trânsito são motociclistas”, ressalta.
Alexandre Gomes Sarmento tem 53 anos e é motoqueiro a 30. Ele conta que já presenciou diversos acidentes dessa natureza. “Colegas meus de grupos de motoqueiros já perderam a vida. Todos poderiam ter sido evitados. Vivenciar essas situações me fazem pensar que posso ser a próxima vítima”, conta o professor de legislação de trânsito e terapia ao volante. “Veículos de duas rodas possuem uma condução mais perigosa mesmo, por isso o cuidado é dobrado. Para ficar em pé, as motos precisam estar em movimento, elas não ficam estáticas, é preciso equilíbrio”, acrescentou.
Para ele, dirigir sua motocicleta é uma terapia. “Me sinto tranquilo, relaxado. O medo, o pânico não pairam na minha mente quando estou pilotando”, diz. “Sempre há medo de acidente, mas eu procuro estar sempre atento e seguro. Procuro estar com os equipamentos corretos, roupas e calçados adequados e, claro, seguir sempre as normas de trânsito”, finalizou Alexandre.
Em nota, o Detran DF salientou que os dados sobre acidentes de trânsito envolvendo motociclistas são preliminares e ainda estão passando por tratamento e análise sobre as circunstâncias para se chegar aos fatores geradores. Portanto, ainda é prematuro afirmar as causas desses sinistros. “Contudo, as ações deste Departamento têm sido intensificadas pelas Diretorias de Policiamento e Fiscalização de Trânsito e de Educação. As equipes de educação para o trânsito trabalham com as ações de conscientização sobre comportamentos seguros para os motociclistas, bem como o convívio harmônico entre os demais condutores. Já as equipes de fiscalização buscam realizar operações que possam abordar e autuar aqueles motociclistas que insistem em práticas imprudentes que colocam eles e outras pessoas em risco”, ponderou Glauber Peixoto, porta-voz do órgão.
Por Redação do Jornal de Brasília
Foto: Mayara Dias / Reprodução Jornal de Brasília