Hospitais podem estar se enchendo por problemas respiratórios que não exigem cuidado intensivo. Segundo aponta Stenio Ponte, médico otorrinolaringologista, diretor da Otorrino DF, e membro da associação brasileira de Otorrinolaringologia e Cirurgia (ABOC), um período de maior ocorrência de doenças respiratórias estaria ajudando a encher os hospitais de DF, sobrecarregando o sistema de saúde desnecessariamente e expondo pacientes com casos leves a doenças potencialmente graves.
Segundo afirma o médico, o motivo de as doenças respiratórias estarem aumentando se deve a um evento respiratório anual, que ocorreu de ser adiantado alguns meses. “Sazonalmente falando, em junho aumenta 30% na busca de hospital por doenças respiratórias. O fato é que se antecipou para abril esse movimento, ou seja, esse 30% de aumento que já era esperado está gerando um caos porque está somando com o número de dengue que não tinha antes”, afirma.
A maior parte das pessoas que estariam procurando tratamento em hospitais, mediante algum sintoma gripal ou de natureza respiratória, o estariam fazendo sem a necessidade de atendimento em dependências como essas, segundo afirma o profissional. De acordo com Stênio, ambientes hospitalares são voltados a casos graves como asma grave, pneumonia, falta de ar, ou a própria dengue. Sintomas respiratórios simples podem, dessa forma, ser tratados em ambientes de atendimento clínico, como UBSs ou clínicas particulares.
Segundo afirma o médico, as consequências de ir a hospitais sem a devida necessidade é, não apenas sobrecarregar esses ambientes, mas se expor a doenças mais graves. “A população normal que adoece uma vez por ano, que tem imunidade boa, que não tomam nenhum medicamento que comprometa a imunidade, não precisa estar dentro do hospital porque, se pensar por outro ângulo, hospital é lugar de gente doente. Se uma pessoa vai para o hospital com uma virose pode sair de lá com uma pneumonia, ou com uma meningite. Meningite em criança é uma doença grave”, afirma.
Dito isso, existe uma parcela do público que pode se encaminhar para o ambiente hospitalar ao primeiro sinal de um mal respiratório. Pessoas com condições que exigem um cuidado mais próximo e que podem evoluir facilmente para uma condição grave. Seriam elas as crianças com histórico de asma e de bronquite, que já tiveram internação por falta de ar, pneumopatas, pessoas que têm doenças crônicas, doenças reumatológicas, doenças autoimunes, doenças oncológicas que deixam a imunidade muito baixa. “Para esse tipo de público a gripe vira uma pneumonia”, afirma o médico.
“O público grave tem que obviamente continuar indo para o hospital, mas é importante desafogar esses ambientes com essas doenças respiratórias, que podem ser perfeitamente conduzidas no consultório. E aí se a gente avaliar que tem que ir para o hospital, que é um risco, a gente mesmo encaminha para o hospital. Hoje eu mando 2% dos nossos pacientes para o hospital e o hospital manda 50% para o consultório”, afirma. Segundo diz, o principal motivo das pessoas se encaminharem primeiro a um hospital ao invés de um ambiente clínico se dá pelo trauma de dois anos de pandemia. “Todo mundo teve alguém próximo que teve um caso grave. É outro fator que está levando a aglomeração nos hospitais”.
O médico diretor do consultório Otorrino DF termina com uma recomendação. “A seca já chegou e nada melhor do que a prevenção, e a hidratação para prevenir que a doença se instale de fato. A gente percebe que muita pneumonia, muita asma, muita bronquite advém de uma simples rinite. Um estado gripal quando não bem tratado evolui para isso”, finaliza.
Por Guilherme Pontes do Jornal de Brasília
Foto: Tony Oliveira/Agência Brasília / Reprodução Jornal de Brasília