A Seca continua no DF e moradores já sentem os impactos da falta de água

Os principais reservatórios do DF – Descoberto, Santa Maria e o Lago Paranoá – desempenham papéis cruciais no abastecimento da capital

Por Victoria Kortbawi Sant’Anna Duarte Moretti
redacao@grupojbr.com

Há mais de 140 dias sem chuva, o Distrito Federal enfrenta uma das piores secas dos últimos 40 anos, e os efeitos já são visíveis para os moradores. A longa estiagem tem refletido nos reservatórios que abastecem a região. O reservatório Santa Maria, que fornece água para 19% da população de Brasília, está com menos de 46,22% de sua capacidade total, um dos menores níveis registrados nos últimos cinco anos.

Os principais reservatórios do DF – Descoberto, Santa Maria e o Lago Paranoá – desempenham papéis cruciais no abastecimento da capital. O reservatório Descoberto é responsável por cerca de 64% do abastecimento, enquanto o Santa Maria integra o sistema Torto/Santa Maria, que abastece cerca de 19%. O Lago Paranoá é um reservatório de múltiplos usos, com a operação acompanhada por seus níveis altimétricos.

A Agência Reguladora de Águas, Energia e Saneamento Básico do Distrito Federal (ADASA) monitora diariamente os níveis dos reservatórios e a distribuição de água para a população. A agência está intensificando suas estratégias para enfrentar possíveis crises hídrica no futuro. “Com base na série histórica de precipitações no DF, estamos prestes a iniciar o período de chuvas, o que permitirá a recuperação dos níveis dos reservatórios e da vazão dos mananciais de abastecimento”, declarou a ADASA.

A ADASA, em colaboração com o Grupo de Acompanhamento – que inclui a Caesb, Emater, SEAGRI, SEMA, UnB e o Comitê de Bacia Hidrográfica (CBH) Paranaíba-DF – estabelece anualmente curvas de referência para o volume útil dos reservatórios, fundamentais para a gestão dos recursos hídricos. “Atualmente, os reservatórios principais – Descoberto, Santa Maria e Corumbá IV – operam de forma integrada para garantir a estabilidade do sistema de distribuição de água”, afirmou a agência.

Segundo a ADASA, não há previsão de impactos no abastecimento e na distribuição de água para a população do DF. “Hoje, o DF possui seis sistemas de abastecimento de água, e a interligação entre eles permite a transferência de água de áreas com maior disponibilidade para aquelas com menor oferta”, explicou o órgão.

A falta de água tem afetado a rotina diária de muitos residentes. A Social Media Amanda Gil, 28, moradora do Cruzeiro Novo, relatou que as dificuldades enfrentadas pela falta de água e como tem contornado a situação

“Quando sabemos com antecedência sobre a falta de água, tentamos nos preparar armazenando baldes para banho e cozinhar, além de garrafas com água potável. Mas frequentemente, o corte acontece sem aviso, tornando a situação mais complicada. No último final de semana, eu e minha namorada, voltamos para casa tarde e não conseguimos tomar banho antes de dormir; felizmente, meu pai estava acordado e nos recebeu na casa dele.”

Camilla Souza,28, internacionalista residente no Guará II, também relatou dificuldades: “Moro em apartamento e meu condomínio tem reservatório, mas o síndico pede para evitarmos o uso intensivo de água, como lavar carros ou fazer faxina. A falta de aviso prévio dificulta a preparação, então sempre enchemos 1-2 baldes de água e mantemos garrafinhas de água potável na geladeira.”

A ADASA realiza anualmente campanhas de conscientização sobre o uso racional da água. Em junho e julho, foram feitas ações públicas sobre processos de outorga e uso da água em áreas urbanas e rurais. Até o final do ano, a ênfase será no reúso de água e na adoção de fontes alternativas. As campanhas são divulgadas através de redes sociais, mídias DOOH, paineis luminosos, rádios e TVs.

Desde 2010, a ADASA também promove o programa Adasa na Escola, que educa alunos e professores sobre o uso racional da água e a gestão de resíduos sólidos. Em 14 anos, o programa impactou mais de 345 mil crianças em 735 instituições de ensino, utilizando metodologias interativas como contação de histórias e apresentações musicais, além de fornecer materiais educativos gratuitos.

A Agência reguladora também anunciou ações para melhorar a infraestrutura hídrica no DF a longo prazo. Segundo o planejamento da Caesb, estão previstas a implantação de uma nova captação no Lago Paranoá, aumentando a vazão do sistema Paranoá Sul em 700 L/s, e o aumento da produção do sistema Corumbá em 1.400 L/s e do sistema Paranoá Norte em 700 L/s. Até 2053, está previsto um acréscimo de 2.618 L/s ao sistema de abastecimento, que atualmente tem 8.440 L/s.

No curto prazo (2024-2026), estão previstas as seguintes medidas:

Aumento de 20 L/s na produção da ETA Planaltina e de 40 L/s na ETA Gama em 2024.

Aumento de 18 L/s no sistema de abastecimento de Brazlândia com a entrada em operação da captação do córrego Olaria e incremento de vazão para as localidades de Setor Habitacional Tororó, Lago Sul, São Sebastião e Jardim Botânico através de adutora do sistema Corumbá em 2025.

Acréscimo de mais 47 L/s na produção da ETA Planaltina e mais 78 L/s na ETA Gama em 2026.

Investimento de aproximadamente 150 milhões de reais na rede de distribuição de água entre 2024 e 2026.

Para o longo prazo (2028-2039), estão previstas:

Aumento de 2.600 L/s ao sistema de abastecimento, equivalente a 30% dos atuais 8.400 L/s, distribuído entre os sistemas Paranoá Norte, Paranoá Sul e Descoberto/Corumbá.

Previsão de acréscimo de 350 L/s na produção do sistema Paranoá Sul em 2053.

Investimento de aproximadamente 800 milhões de reais na rede de distribuição de água e 600 milhões de reais no controle e redução de perdas de água nos próximos 15 anos.

Por Jornal de Brasília

Foto: Jornal de Brasília / Reprodução Jornal de Brasília