Com a baixa umidade do ar e a onda de calor que atingem a capital do país, a Fundação Jardim Zoológico de Brasília preparou um menu diferenciado para o casal de ariranhas, Saraê e Macau, se refrescar, servindo picolés de peixes congelados. Além delas, primatas e jabutis, também estão recebendo um tratamento diferenciado para se hidratarem na seca castigante.
A primeira a se interessar pelo peixe congelado foi Saraê, que não perdeu tempo e abocanhou a iguaria. Mais tímido, Macau chegou de mansinho para apropriar-se do petisco. De acordo com o tratador dos bichos Douglas Santos, a fêmea sempre foi mais atenta que o macho. “Isso também depende muito de como os animais estão se sentindo no dia. Mas a resposta deles foi excelente e parece que gostaram bastante”, pontua.
A disputa entre os bichos pelo alimento foi percebida pela equipe do Correio. O fotógrafo Marcelo Ferreira registrou o momento em que uma garça roubou o pedaço de picolé de peixe que estava disponível na água para as ariranhas. “Ela (a garça) estava na espreita e, no momento de distração das ariranhas, deu o bote e garantiu o lanche da tarde”, disse o fotografo
O tratador conta que as ariranhas se alimentam quatro vezes ao dia, às 8h, 11h, 14h e 15h30, e o cardápio é basicamente peixe e frango. “Elas têm maior apreço pelo frango. Para realizar essa mudança no menu, depende de como os bichos estão. Caso eles tenham comido algo recentemente, não é interessante fazer essa ação, pois eles podem não interagir bem”, explica.
A oferta do refresco funciona como um estímulo em relação ao calor, disse a gerente de bem-estar do Zoológico, Camila Rocha. Segundo ela, vários animais também recebem alguma ação nesse sentido. “É um cronograma feito mensalmente que vamos variando de acordo com a temperatura, o ambiente, o comportamento e outras condições. Tudo isso é pensado por nossa equipe para não causarmos estranheza e estresse entre os bichos”, destaca.
Refresco para todos
Uma surpresa para lá de especial pode chegar para os elefantes na semana que vem. De acordo com Camila, há uma programação para fazer um picolé enorme de frutas para eles. “Espero que tenhamos uma interação muito boa. Todos os anos, nessa época, nossos grandalhões recebem atividades como essas. Isso é para ajudarmos a manter a temperatura e a pele mais hidratada, porque sofrem bastante. Por mais que tomem banho de lama, ainda damos banho de mangueira, que eles adoram e se divertem muito”, destaca.
Além das ariranhas, outros animais tiveram mudança no cardápio esta semana. “Na segunda, servimos picolés de frutas para os primatas e também para os jabutis. Todas as espécies que precisam desse refresco no período mais seco são atendidas por nós”, disse a gerente de bem-estar.
O diretor-presidente do Zoológico, Walisson Couto, conta que o importante é sempre buscar manter o animal em um habitat mais próximo do natural possível e, na época de calor, fornecer bastante água e tanques para os bichos se refrescarem. “Isso também serve para evitar o estresse dos nossos bichos e manter o bem-estar”, pontua.
Walisson cita que a equipe dele assumiu o espaço no ano passado, mas, há bastante tempo, este tipo de iniciativa é realizada. “Cada ano que passa fica mais quente, então sempre estamos pensando em soluções para cuidar dos animais e melhorar alguns procedimentos”, observa.
Confecção e bem-estar
Os picolés são feitos no Setor de Manipulação de Alimentos (Semapa), da Diretoria de Alimentação e Nutrição Animal do Zoológico de Brasília. Segundo a zootecnista do local, Tatiane Beloni, são utilizadas comidas que fazem parte da dieta dos bichos. “Os alimentos são picados e congelados com um pouco de água, em potes que variam de tamanho, de acordo com a espécie com a qual estamos trabalhando. No caso das ariranhas, a tilápia faz parte da dieta desses animais diariamente”, explicou.
Por conta do calor, frutas e legumes são os mais recomendados para os bichos residentes do Zoo, comentou Tatiane. “Também é interessante servir água de coco e os picolés confeccionados com alimentos que compõem as dietas. Ficamos mais atentos à qualidade dos alimentos para disponibilizar sempre dietas recém-preparadas e nos horários mais frescos do dia. A oferta de comidas congeladas, além de potencializar a hidratação dos animais, é uma estratégia para melhorar a ingestão”, detalhou, dizendo que, nessas épocas, por conta das condições climáticas, o apetite de alguns animais tendem a diminuir, reduzindo, assim, a ingestão de nutrientes.
Além disso, a necessidade de consumo diário de água aumenta, e algumas estratégias são adotadas para suprir essa demanda. “Banhos nos animais, uso de aspersores de água nos horários mais quentes do dia e lameiros são algumas soluções”, disse Tatiane Beloni. Assim como os elefantes grandalhões, outro bicho que pode receber essa ação é Thor, o rinoceronte-branco-do-sul, morador de Brasília desde 2008.
*Estagiário sob a supervisão de Márcia Machado
Por Luis Fellype Rodrigues do Correio Braziliense
Foto: Marcelo Ferreira/CB/D.A Press / Reprodução Correio Braziliense