O golpe da gasolina adulterada é uma prática ilícita que acarreta em prejuízos para os consumidores. Trata-se de um esquema em que esse combustível é misturado a substâncias proibidas ou tem sua composição alterada para reduzir custos e aumentar os lucros de forma desonesta. Esse problema não apenas prejudica o desempenho dos veículos e causa danos financeiros aos motoristas, mas também compromete a confiança no setor e afeta negativamente a economia local. Segundo o Procon, neste ano, seis denúncias foram recebidas pelo órgão porém “todos os postos foram fiscalizados junto à Agência Nacional do Petróleo (ANP) e nenhum problema foi constatado”.
De acordo com o mecânico proprietário da oficina Tecnocar, Edilson Braga, a técnica mais comum para adulterar o líquido é adicionar etanol à composição, o que para muitos carros não causa um prejuízo direto ao automóvel, mas aumenta o consumo de combustível. “A maioria dos carros hoje é flex, e muitos clientes nem sabem se estão utilizando álcool ou gasolina. Eles vão ao posto e mandam abastecer, vez ou outra, o consumo aumenta ou diminui, mas eles nem param para pensar nisso. Quando chegam aqui na oficina por outra razão verificamos o consumo e usamos o scanner para analisar o índice de álcool ou gasolina. Em 90% dos casos, encontramos cerca de 40% de álcool no combustível, mesmo quando o cliente afirma que nunca usou álcool. Isso acontece porque as misturas já vêm das bombas”, explica.
O problema maior ocorre quando o carro não é projetado para tolerar altos níveis de álcool, o que pode causar sérios danos à parte mecânica. “Quando o sistema de injeção do veículo não aceita o etanol e ele é abastecido com combustível adulterado, o bico começa a travar, o álcool reage com os plásticos do tanque, e uma série de outros problemas podem surgir”, explica João Pedro Nascimento, reparador automotivo e dono da oficina Jefferson Auto Car.
Por lei, a gasolina comercializada no Brasil deve conter entre 25% e 27,5% de álcool. No entanto, para aumentar a lucratividade, alguns postos elevam essa proporção para 32% ou até 40%, o que pode ser prejudicial para determinados carros. “Um exemplo claro é o de uma Mercedes, que não pode nem ser abastecida com gasolina comum, apenas com a Podium, que contém pelo menos 95% de octanas, como exigido para seu funcionamento adequado. Em veículos como esse, as peças são caras e, geralmente, importadas. No caso que estamos consertando agora, a bomba de combustível custa 14 mil reais e precisou ser trocada. Não havia outra solução”, destaca João.
Outra forma de adulteração é misturar a gasolina com água ou outros solventes mais baratos, o que pode levar a danos graves em todos os tipos de veículos. “Em casos mais graves o carro para devido à adulteração. Geralmente, isso acontece no próprio posto. Nessas situações, é necessário esvaziar o tanque e realizar os reparos. Dependendo da adulteração, os danos podem atingir o motor, com problemas nos bicos injetores ou até travamento, podendo levar à perda total do motor. A gravidade depende do nível de adulteração e do uso do veículo”, diz Edilson.
Os técnicos apontam que o problema de combustíveis adulterados tem uma frequência considerável, com cerca de um ou dois veículos necessitando de reparos a cada mês. O presidente do Sindicombustíveis do DF, Paulo Tavares, explica que não há um levantamento preciso, já que a ANP suspendeu seu programa de monitoramento por falta de verba. Segundo ele, o maior número de denúncias ocorre em finais de semana, feriados e em períodos de preços muito baixos nos postos. “Nesse último caso, sempre alertamos a imprensa e os Procons, porque não existe almoço grátis”, comenta. Paulo ressalta que a ANP é o único órgão com competência para fiscalizar, mas lembra que, por lei, os consumidores podem exigir testes no posto caso desconfiem da qualidade do combustível.
Por Maria Eduarda Lavocat do Correio Braziliense
Foto: Pedro Santana / CB / Reprodução Correio Braziliense