Brasilienses mantêm a tradição do presépio e decorações encantam

Casas, igrejas e comunidades adotam a montagem do presépio nesta época. A origem do costume está em São Francisco de Assis. O Correio conversou com o padre Rafael Santos, do Santuário Nossa Senhora da Saúde, e visitou a quadra SQN 303, que tem uma das mais belas decorações do Plano Piloto, no período natalino

0
4

Símbolo do Natal cristão, o presépio transcende a decoração e carrega em si a essência do nascimento de Jesus: humildade, união e fé. Em casas, igrejas e comunidades, como na SQN 303, a tradição de montar o cenário que remonta à manjedoura em Belém é mantida com dedicação pela comunidade. Inspirada no gesto de São Francisco de Assis, que criou o primeiro presépio, a prática reforça valores religiosos, une famílias e convida os cristãos a refletirem sobre o verdadeiro significado do Natal.

O padre Rafael Santos, do Santuário Nossa Senhora da Saúde, destaca o sentido espiritual e histórico do estábulo, recordando sua origem. “O primeiro foi feito por São Francisco de Assis. Foi um presépio humano. Ele quis representar as mesmas condições do nascimento do Menino Deus e levar uma reflexão àqueles que o contemplassem. Isso nos recorda que o Senhor Deus, ao encarnar e se fazer homem, não encontrou lugar para nascer. A manjedoura nos prepara para a segunda vinda de Cristo”, explica.

Para ele, é mais do que uma tradição natalina. É uma lembrança de que a humildade, o amor e a fé devem guiar as vidas dos fiéis, e uma forma de ajudá-los a se conectarem espiritualmente. “Ao contemplá-lo, preparamos nosso coração para a vinda de Cristo e nos comprometemos a viver os valores que Ele nos ensinou”, diz. 

Rafael destaca a montagem e a desmontagem da estrebaria. “Algumas pessoas colocam os Reis Magos distantes do presépio e, aos poucos, aproximando-os até chegarem à manjedoura, em 24 de dezembro ou na festa da Epifania (Dia de Reis), quando celebramos que Cristo se manifestou à humanidade”, complementa.

A desmontagem também é um momento de reflexão e ocorre no fim do tempo litúrgico do Natal, que se encerra com a celebração do batismo de Jesus. “Nesse ato, os devotos se comprometem a serem melhores no próximo ano e a removerem de suas vidas o que impede Cristo de permanecer nelas”, conclui.

Peregrino

A SQS 303 mantém os tradicionais anjos iluminados que recepcionam os visitantes com serenidade, mas é o presépio que rouba a cena, carregando em si a essência do Natal. A imagem do Jesus Peregrino, como é carinhosamente chamada, tem um papel especial na comunidade. Após a inauguração, a peça é levada de apartamento em apartamento daqueles que querem a visita, permitindo que cada família receba, por alguns dias, a representação do nascimento de Cristo.

A inauguração da decoração natalina, em 6 de dezembro, foi marcada por um miniculto ecumênico. Pastores, membros do ministério da Eucaristia, além da comunidade católica, reuniram-se em orações e celebrações, reforçando o espírito de fraternidade.

Há 15 anos, os moradores mantêm viva a tradição natalina com anjos iluminados, árvores decoradas, pisca-piscas e um imponente trenó do Papai Noel. Neste ano, a prefeita da quadra, Nanci Martins de Paula, à frente da gestão há cinco anos, coordenou uma decoração ampliada e renovada, sem deixar de lado o toque especial de sempre.

“Cada detalhe é planejado com amor e fé para preservar e inovar as tradições culturais da nossa região. O presépio, em especial, é uma forma de manter viva a essência do Natal e unir a comunidade. O amor está no ar. Vivamos a alegria do Natal de Jesus”, afirma a professora.

Família

Desde os 5 anos de idade, Sônia Juçara, 69, monta presépios nesta época. O costume foi passado pela avó, que os montava no chão da casa onde morava, em Utinga, na Bahia. “Casei e tive duas filhas e um filho. Tenho um neto e cinco netas. Sempre montei e expliquei pra todos o real significado. Todos os anos, na véspera ou no dia do Natal, junto todos eles, rezamos a oração do presépio e cantamos a música Noite Feliz”, descreveu.

“O presépio significa o real nascimento de Jesus e o renascimento dele nas famílias todos os dias”, reforça. Por isso, Sônia sempre buscou levar para o lar o “exemplo da Sagrada Família de amor, dedicação e paciência”. Em relação à confecção da maquete, a aposentada diz que usa a criatividade e não gasta muito.

Ana Lúcia de Oliveira, 63, também convive com o presépio desde a infância. Para a professora aposentada, o Natal começa com a montagem da maquete, que demora cerca de 15 dias para ser finalizada. O preço é algo difícil de ser estimado, pois ela tem itens de diversos lugares, inclusive internacionais. “Meu esposo é um apaixonado por presépios. É bastante trabalhosa a montagem, mas é feita em oração e meditação. Como meu presépio é cheio de anjos, pois miríades de anjos cantaram quando Jesus nasceu, eu sempre ganho anjinhos, mas, quando vejo uma peça que caiba no nosso presépio, mesmo fora do Natal, a gente adquire”, conta.

Jerusalém faz parte do presépio de Ana Lúcia (foto: Ed Alves/CB/DA.Press)

Todos os irmãos e sobrinhos cultivam a tradição em suas casas. “As crianças, sobrinhos-netos e meus netos não entendem o Natal sem a cristã montagem do presépio, onde revivemos esse mistério do Deus que se fez homem no seio da Virgem Maria. E desde pequenos já entendem o verdadeiro sentido da data”, observa.  “Também vivemos a célebre troca de presentes na noite de Natal, mas o significado maior é o nascimento de Jesus. Somente depois da missa e da ceia que os abrimos”, acrescenta.

*Estagiários sob a supervisão de Malcia Afonso

Significado dos elementos 

Fonte: Padre Rafael Santos, do Santuário Nossa Senhora da Saúde

-A Choupana, Estrebaria e Casa de animais: Representa a simplicidade de Deus. Sendo todo-poderoso, Ele poderia nascer em um palácio, mas escolheu um ambiente simples para mostrar sua proximidade com a maioria das pessoas, que são humildes. Não se trata de uma divisão entre ricos e pobres, mas de lembrar que muitos ricos se apegam ao dinheiro, enquanto o pobre mantém a fé e a esperança de que Deus cuida. 

-Os pastores: Eles simbolizam os excluídos, pois não eram bem-vindos na cidade. Eram pessoas marginalizadas, e Deus, ao vir para os pastores, nos recorda que Ele vem para aqueles que são deixados de lado.

-Os reis magos: Representam que Deus é para todos, pois não eram judeus, mas buscadores da verdade. Eles simbolizam que Cristo é a verdade que todos, independentemente de sua origem ou fé, podem alcançar.

Por Giovanna Sfalsin e Luis Fellype Rodrigues do Correio Braziliense

Foto: Ed Alves/CB/DA.Press / Reprodução Correio Braziliense