Meu primeiro dia de aula: as crianças que iniciarão a vida escolar

Com o início do ano letivo na próxima segunda-feira, milhares de crianças iniciarão a experiência escolar, um misto de ansiedade e entusiasmo. Conheça as histórias de três desses pequenos estudantes

Material organizado, olhos brilhando e frio na barriga. Para milhares de crianças, a próxima segunda-feira não será apenas um dia comum: é o início de uma nova jornada de aprendizado, amizades e descobertas. O primeiro dia de aula carrega emoção, expectativas e, para muitos, até lágrimas — dos filhos e dos pais. O Correio acompanhou, de perto, Laura Correia, 4 anos, Noah Emanuel Feitosa, 4; e Rafael Costa, 3; crianças que terão suas vidas marcadas, na próxima semana, pelo início da trajetória escolar. 

O pequeno Noah Emanuel Fonseca, 4 anos, começará a vida escolar no Centro de Educação Infantil (CEI) 416 de Santa Maria, onde mora com os pais e irmãos. Tímido, recebeu a reportagem para mostrar detalhes dos materiais que usará no primeiro ano letivo. A vendedora Beatriz Giovanna Fonseca, 31, mãe de Noah, confidenciou que, desde que os itens foram comprados, o menino tem conferido cada detalhe várias vezes ao dia. 

Em um tapete no chão da sala, o garoto pegou a mochila de rodinhas e espalhou os lápis, tintas e massinhas de modelar. Acanhado, mal levantava a cabeça enquanto mostrava os detalhes dos materiais. A mochila, o papel EVA com glitter e o estojo de tinta aquarela, todos na cor azul, revelam o tom favorito do menino. 

Ele já esteve na creche, mas a experiência que começa é diferente. Os pais estão orgulhosos do pequeno. “Eu olho o início desta fase com esperança, para que ele consiga se desenvolver, concluir todas as etapas da vida e ter um futuro melhor”, disse a mãe. Apesar de afirmar que o menino interage bem com outras crianças, Beatriz acredita que o filho vai chorar nos primeiros dias. 

Pouco a pouco, Noah desinibiu-se ao longo da entrevista. Contou que, quando crescer, será bombeiro militar e fez questão de pegar a viatura de brinquedo para mostrar os equipamentos que usará futuramente. Perguntado sobre seu personagem favorito, respondeu que é “o Homem-Aranha, poque (sic) ele solta teia”, disse, enquanto fazia o gesto do super-herói com as mãos. 

Um marco

Mônica de Fátima Mesquita, psicopedagoga e orientadora educacional, explica que o primeiro dia de aula representa um misto de emoções e de sentimentos, que são comuns e, às vezes, se expressam por meio do choro. “A criança, ao se perceber sozinha, longe das figuras paternas, sente medo e insegurança. Situação aceitável e compreensível para o contexto. Nós, adultos, temos a mesma insegurança quando nos deparamos com uma situação nova, como mudança de casa, trabalho e rotina”, apontou. 

“O diálogo é a melhor maneira de antecipar o que vai acontecer. Converse com a criança sobre o que ocorrerá e o que ela pode esperar, além das possibilidades de novos amigos e brincadeiras. Os pais, ao demonstrar entusiasmo pelas novas experiências, transmitem segurança à criança, que fica mais tranquila”, afirmou, completando que é importante acolher e validar o sentimento do pequeno, escutando-o com atenção e mostrando que o que ela sente é normal e logo passará. 

Contando os dias

Na próxima semana, Laura Correia, 4 anos, iniciará sua jornada de estudos, inspirada na irmã mais velha, que tanto admira, Mirella Lis Correia, 8. Em entrevista, a mãe, Raíza Correia, 28, gerente de manutenção, contou que, apesar de ser tímida, a menina ficou entusiasmada na primeira visita à escola. Desde então, pergunta todos os dias quando terá aula. 

Laura, que gosta de pintar e folhear livros, ainda não comprou sua tão sonhada mochila da gata Marie, uma de suas personagens favoritas, mas adiantou o desejo de ter a lancheira com o mesmo tema. Ela estudará no Jardim de Infância 116, em Santa Maria, o que deixa a família mais confortável por estar perto de casa. 

“No primeiro momento, ela foi contemplada para ficar em um Centro de Educação Infantil. Isso me preocupou, pois a escola é conhecida por ser desorganizada. Já o Jardim 116 é uma das melhores da região, é disputada e tem boa fama. Acredito que a Laura estará em boas mãos”, afirmou. 

Sobre a adaptação, Raíza confessou que espera não ter que buscar a menina no meio do expediente, uma vez que acredita atrapalhar o processo. “Vou verificar se eles disponibilizarão um horário específico nos primeiros dias para que as crianças se acostumem. Caso não, pretendo deixá-la o turno inteiro.”

Jerusa Pinheiro, vice-diretora do Jardim de Infância VI Comar, explicou que, no período de adaptação, a escola busca promover momentos de recepção às crianças e às famílias, com a  participação da equipe escolar. “Realiza-se a apresentação da equipe e momentos de descontração, com músicas infantis, brincadeiras, rodas de conversa, contação de histórias e exploração do espaço”, apontou. 

Sem choro 

Ao visitar o Centro de Educação Infantil Didascalho São José Operário, localizado na Estrutural, Rafael Costa, 3, estava bastante animado. Corria e pulava descalço pelo pátio da instituição. Confortável, o menino brincou com bolinhas coloridas, pediu tarefas para colorir e se encantou com os desenhos infantis expostos nos painéis da escola. 

A mãe, Ana Cleia Costa, que é autônoma, acredita que o filho se adaptará bem e confia no trabalho realizado pela escola. “Meu filho mais velho, de 9 anos, estudou aqui, e eu gosto da forma como eles ensinam. A escola estabelece horários para realização das atividades e dos lanches. Isso vai permitir que meu filho crie uma rotina e entenda a importância das regras”, ressaltou. 

Ela destacou a animação de Rafael, que não vê a hora de ir para a escola na segunda-feira. O menino, ansioso para brincar e desbravar o espaço escolar, onde passará boa parte dos seus próximos anos, não deu muita atenção à equipe de reportagem. Sua empolgação era nítida, principalmente ao ser perguntado sobre a sua mochila azul, do personagem Sonic. Em dado momento, sentou-se em uma cadeira do local e observou com atenção a parede com desenhos de animais. “Olha Kal (referindo-se ao irmão mais velho, Maurício Mikael), a oveia banca lá. O que é aquele oto? (sic)”, disse Rafael. 

Segundo Poliana Gomes, diretora do CEI Didascalho SJO, o primeiro dia de aula é marcante na vida dos pequenos alunos. “É o início de uma nova fase, de conhecer novas pessoas, de começar a desvendar o mundo. O acolhimento e a segurança tanto dos professores quanto da família é primordial. A criança precisa sentir que os pais ou responsáveis retornarão para buscá-la. Por isso, o diálogo e compromisso nessa fase é essencial para o bom desempenho e adaptação deles”, afirmou.

*Estagiária sob a supervisão de José Carlos Vieira

Por Giovanna Sfalsin e Letícia Guedes do Correio Braziliense

Foto:  Ed Alves/CB/DA.Press / Reprodução Correio Braziliense