Congresso emite sinais invertidos: poupa de um lado, gasta de outro

Ao mesmo tempo em que entidades da sociedade civil criticam aumento no número de deputados, representantes do empresariado exaltam derrubada da subida do IOF

A semana legislativa termina com reações intensas e contraditórias da sociedade civil organizada diante de duas decisões do Congresso Nacional, na sessão de quarta-feira. De um lado, entidades como o Movimento de Combate à Corrupção Eleitoral (MCCE) e o Instituto Livres criticaram duramente a aprovação do projeto de lei que amplia de 513 para 531 o número de cadeiras na Câmara dos Deputados. De outro, o setor produtivo celebrou a derrubada do decreto que aumentava as alíquotas do Imposto sobre Operações Financeiras (IOF) — considera que a medida traz alívio tributário e é uma vitória do diálogo institucional.

Para o coordenador do MCCE, Luciano Caparroz Pereira dos Santos, o aumento do número de parlamentares representa o “desprezo à opinião pública e à austeridade”. Embora o impacto direto mais evidente seja o aumento de gastos — estimado em cerca de R$ 65 milhões anuais —, Caparroz aponta que o dano simbólico é o mais grave.

“O Congresso transmite um péssimo exemplo à sociedade, que clama por probidade, moralidade e bom uso dos recursos públicos”, criticou. Ele também lamentou o uso da decisão do Supremo Tribunal Federal (STF) como justificativa, classificando como “casuística, ilegal e imoral” a exclusão dos estados que perderiam cadeiras na redistribuição.

Na mesma linha, Magno Karl, diretor do Instituto Livres, afirmou que a proposta ignora o espírito da Constituição ao transformar uma demanda técnica por redistribuição proporcional em uma oportunidade política. “Foi um trem da alegria. A decisão do STF era clara: redistribuir as 513 vagas e não aumentá-las.” Karl ainda criticou o argumento de que os novos gastos estariam previstos no orçamento da Casa. “É dinheiro público, independentemente de onde saia”, frisou.

As entidades já se articulam para responder à medida. O MCCE estuda judicializar a questão, buscando novamente o STF. Segundo Karl, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva dificilmente vetará a medida, dadas as relações delicadas com o Congresso. Diante disso, as organizações planejam intensificar campanhas de mobilização e conscientização, mirando as eleições gerais de 2026 como momento de resposta popular. “A única coisa que ainda impõe limites aos políticos é o medo de perder votos”, disse o diretor do Instituto Livres.

Aplausos

O setor produtivo, por sua vez, reagiu positivamente à derrubada do aumento do IOF. Em nota, a Confederação Nacional do Comércio de Bens, Serviços e Turismo (CNC) elogiou a aprovação do Projeto de Decreto Legislativo que susta o decreto presidencial, afirmando que a decisão do Congresso representa “um compromisso com a construção de um ambiente de negócios mais estável, previsível e competitivo”.

A CNC e outras entidades ressaltaram que a elevação do IOF representava, na prática, a criação de um novo tributo sem qualquer contrapartida administrativa. Para elas, o caminho para o equilíbrio fiscal passa por reformas estruturantes, como a administrativa, que racionalizem o gasto público antes de impor mais encargos ao setor produtivo. “Recompor receitas com aumento de impostos é uma prática nociva e que precisa ser superada”, afirmou a nota.

As entidades encerraram suas manifestações defendendo o fortalecimento do diálogo entre os Poderes e a participação ativa da sociedade nas decisões de impacto fiscal e tributário. “Seguiremos vigilantes e atuantes, em defesa de um sistema mais justo, eficiente e que promova a competitividade do Brasil”, salienta a CNC.

O presidente da Câmara dos Deputados, Hugo Motta (Republicanos-PB), foi às redes sociais logo depois da votação para exaltar a derrubada do aumento do IOF pelo Congresso. “Começamos votando o projeto de Decreto Legislativo sustando o aumento do IOF. Essa construção se deu de forma suprapartidária e com a maioria expressiva. A Câmara e o Senado resolveram derrubar esse decreto do governo para evitar o aumento de impostos”, observou.

Motta acrescentou, no vídeo, que também foram aprovadas matérias que permitem ao governo aumentar a arrecadação sem precisar subir o percentual do IOF. Entre elas, a MP do Fundo Social de Habitação, que segundo o deputado possibilita a injeção de R$ 15 bilhões no setor de construção civil. Nela foi incluída uma emenda que permite a venda no exterior do excedente de petróleo, que, segundo Motta, possibilitam ao governo arrecadar até R$ 20 bilhões “sem aumentar impostos”.

*Estagiária sob a supervisão de Fabio Grecchi

Por Resenha de Brasília

Fonte Correio Braziliense       

Foto: Bruno Spada/Câmara dos Deputados