Estacionar ficou mais caro na área central de Brasília

Usuários e comerciantes reclamam do valor cobrado pelas vagas ao redor da rodoviária, mas há quem acredite que a medida trará segurança. Concessionária afirma que o preço foi ajustado conforme os padrões da região central

O primeiro dia útil após o início da cobrança pelos estacionamentos da Rodoviária do Plano Piloto foi marcado por reclamações e dúvidas de quem usava o espaço de graça. Ao todo, são 2.902 vagas na plataforma superior da rodoviária, atrás do shopping Conjunto Nacional e do Conic. A cobrança começou gradualmente, nas vagas próximas ao Conic e na plataforma superior, voltadas para o Setor de Diversões Sul, com o valor de R$ 7 por hora ou R$ 30, a diária.

Segundo a concessionária, é possível optar por planos mensais, que custam entre R$ 250 e R$ 350 (confira detalhes no quadro). O diretor do Consórcio Catedral, Enrico Capecci, disse que todos os veículos que estacionarem nas áreas da concessão estarão cobertos por um seguro. “Qualquer sinistro que ocorra, pedimos aos usuários que reportem a um funcionário da rodoviária ou procurem a administração, para que tomemos as medidas necessárias”, comentou.

Uma das reclamações de quem utilizava os estacionamentos de graça é o valor cobrado. Mauro Mesquita, 45 anos, dono de uma lanchonete no Conic há seis anos, sempre estacionou em frente à loja, que abre de segunda a sábado, com 12 horas de funcionamento por dia. “Se usar como base de cálculo um ano de estacionamento, pagando a diária de R$ 30, vou gastar quase R$ 9 mil”, reclamou. O morador de Planaltina disse que, para escapar da cobrança, passou a estacionar em outra área, que não está sob concessão da empresa.

Mesquita teme uma queda na clientela por causa da cobrança. “O pessoal não vai pagar estacionamento para vir lanchar na minha loja. Com certeza vai ter impacto e demissão”, lamentou. O comerciante afirmou que está pensando em mudar a lanchonete de lugar. “Esse é um ramo desgastante, no qual trabalho de 12 a 14 horas por dia. Com essa cobrança, acredito que vou perder em torno de 200 clientes diários. Perdendo essa clientela, é algo a se considerar (mudar de endereço)”, avaliou.

Padrão 

Diretor de um empreendimento no Conic, Henrique Mendonça, 38, alegou que, antes, os funcionários da empresa podiam estacionar em frente ao prédio e, com a cobrança, não poderão mais. “O comércio perde também. É uma despesa que a gente não tinha e que não estava prevista”, observou o morador do Gama.

Mas há aqueles que apoiaram a decisão, como o vigilante Advan Ferreira Bezerra, 37, morador de São Sebastião. Ele comentou que se sentirá mais seguro na hora de realizar seus afazeres. “Apesar de estar pagando, a gente pode demorar uma hora ou duas horas, sabendo que o carro estará seguro e, aqui nesta região, sempre há relatos de furtos e roubos de veículo”, opinou.

Sobre o preço praticado, o diretor do Consórcio Catedral disse que os valores foram definidos com base em critérios técnicos e observação dos padrões praticados na região central. “Desde o primeiro dia de vigência do contrato de concessão, poderíamos estabelecer cobrança para o uso do estacionamento, mas decidimos dialogar com os atuais usuários do estacionamento durante os primeiros 30 dias, informando previamente sobre os valores”, argumentou.

Alternativas

Especialista em mobilidade e secretário-executivo do Movimento pelo Direito ao Transporte (MDT), Wesley Ferro explicou que, inicialmente, a população vai testar a utilização do estacionamento. “Mas quando começar a pesar no orçamento, vai repensar sua estratégia”, afirmou. “Num primeiro momento, quem não quer abrir mão do veículo particular vai buscar outras vagas, que não são cobradas. Porém, quem quiser fugir desse custo vai migrar para o transporte público”, ressaltou.

De acordo com ele, uma das alternativas é retomar a discussão sobre o projeto Zona Verde. “Uma de suas linhas estabelece estacionamento em estações do metrô e terminais de ônibus, em que não seria cobrado do usuário que fosse até o local com o seu carro, deixasse estacionado e embarcasse no transporte público”, ressaltou. “Talvez seja o momento adequado para retomar essa discussão, pois as pessoas fariam a integração intermodal e acessariam a área central de Brasília via ônibus e metrô”, acrescentou o especialista.

Para Wesley Ferro, a cobrança pelos estacionamentos deve gerar uma discussão sobre a necessidade de ampliar a malha rodoviária exclusiva para o transporte público. “Temos uma das frotas mais novas do país, mas é preciso aumentar a quilometragem de faixas e corredores exclusivos. É uma premissa básica para ajudar a qualificar o transporte público”, afirmou.

Procurada pela reportagem sobre a possibilidade de um mapeamento dos estacionamentos gratuitos ao redor da rodoviária e se haverá alguma política alternativa, para aqueles que não conseguem arcar com os custos cobrados para estacionar, a Secretaria de Transporte e Mobilidade (Semob-DF) informou que “não há previsão de implantar transporte gratuito por meio de vans ou ônibus para a rodoviária”.

Pacotes mensais

– Plataforma superior: R$ 250
– Atrás do Conic: R$ 250
– Atrás do Conjunto Nacional: R$ 350

Fonte: Consórcio Catedral

*Estagiário sob a supervisão de Eduardo Pinho

Pacotes mensais

– Plataforma superior: R$ 250
– Atrás do Conic: R$ 250
– Atrás do Conjunto Nacional: R$ 350

Fonte: Consórcio Catedral

Por Resenha de Brasília

Fonte Correio Braziliense       

Foto: Marcelo Ferreira/CB/D.A Press