O governador do Distrito Federal, Ibaneis Rocha (MDB), enviou, nesta terça-feira (12/8), uma carta ao presidente americano Donald Trump. O motivo foi um discurso feito pelo mandatário dos Estados Unidos citando dados falsos sobre a taxa de criminalidade de Brasília, durante anúncio de plano para diminuir os crimes em Washington, capital dos EUA.
No documento, Ibaneis detalha as políticas públicas voltadas à segurança no DF e destaca números do último Atlas da Violência, que colocam Brasília entre as três capitais com menor taxa de homicídios no Brasil. “A condução da segurança pública no Distrito Federal se alinha, em sua essência, à visão de “lei e ordem”, reforçando que o combate firme ao crime, associado a políticas sociais de alcance real, é o caminho para uma sociedade segura e próspera”, disse trecho da carta.
Referindo-se ao fato de Trump ter mencionado Brasília como uma capital violenta, o governador do DF cita a relação distante entre Brasil e Estados Unidos e tece críticas ao governo Lula. “São informações equivocadas, possivelmente decorrentes da atual ausência de um diálogo mais consistente entre o Brasil e os Estados Unidos da América”, afirmou no documento.
“Diferentemente do atual Governo Federal, acredito no diálogo e na força das relações diplomáticas. Tenho, de forma reiterada, afirmado que o Governo Federal deve abandonar disputas ideológicas e adotar uma postura pragmática nas relações internacionais, abrindo canais de negociações produtivas com os Estados Unidos da América. Para este Governo do Distrito Federal, interesses geopolíticos e comerciais devem estar acima de divergências político-partidárias”, disse outro trecho da carta.
Confira carta que Ibaneis enviou a Trump na íntegra
Excelentíssimo Senhor Presidente,
Cumprimentando-o cordialmente, reafirmo o respeito e a admiração pela histórica relação de cooperação e amizade entre o Brasil e os Estados Unidos da América, ciente de que o diálogo transparente e baseado em fatos é o alicerce de qualquer parceria sólida.
Em razão de recentes declarações públicas proferidas por Vossa Excelência, nas quais Brasília foi mencionada de forma comparativa a localidades internacionalmente reconhecidas por elevados índices de violência, é necessário esclarecer, com base em dados oficiais, que tal percepção não reflete a realidade da capital brasileira. São informações equivocadas, possivelmente decorrentes da atual ausência de um diálogo mais consistente entre o Brasil e os Estados Unidos da América.
No modelo federativo brasileiro, cada estado e o Distrito Federal possui autonomia para estruturar e conduzir sua própria política de segurança pública. Nesse contexto, o Governo do Distrito Federal, por mim conduzido, é de centro-direita, em oposição ao atual Governo Federal, de esquerda. Por isto, a segurança pública da capital do Brasil tem por foco resultados concretos, livre de vieses ideológicos. O sucesso obtido decorre da autonomia de Brasília, garantida pela Constituição Federal do Brasil, e da determinação de proteger a população acima de interesses partidários.
Exemplo disso são as políticas sociais e de segurança integradas que o Governo do Distrito Federal executa de forma independente da União. Entre elas, destaca-se o Plano de Ação para Efetivação da Política Distrital para a População em Situação de Rua, pioneiro no país, elaborado antes mesmo da Política Nacional prevista na Lei nº 14.821/2024. Este plano é intersetorial, garantindo acolhimento, atendimento de saúde, qualificação profissional, acesso a programas habitacionais e alimentação gratuita nos restaurantes comunitários.
A integralidade na segurança pública do Distrito Federal, como implementada pelo Programa Segurança Integral, refere-se à abordagem abrangente que visa a atuação integrada de diversos órgãos e setores para garantir a segurança da população. Essa abordagem envolve a participação da comunidade, através dos Conselhos Comunitários de Segurança (CONSEGs), e a articulação com diferentes áreas do governo, buscando soluções eficazes para os problemas de segurança.
Os CONSEGs são espaços onde a comunidade pode participar ativamente na formulação e discussão de políticas de segurança pública, por meio de reuniões mensais, abertas a todos os cidadãos, fortalecendo o trabalho das forças de segurança e do governo, ampliando a voz da comunidade.
- O programa Segurança Integral é estruturado em seis eixos principais:
- Cidade Mais Segura: Focado em ações de segurança urbana e prevenção da violência.
- Escola Mais Segura: Busca garantir um ambiente escolar seguro e protegido para alunos e profissionais.
- Cidadão Mais Seguro: Promove a participação cidadã e a conscientização sobre segurança.
- Mulher Mais Segura: Desenvolve ações para proteger as mulheres e combater a violência de gênero.
- Servidor Mais Seguro: Valoriza e protege os profissionais da segurança pública.
- Campo Mais Seguro: Voltado à proteção da população e da zona rural do Distrito Federal.
Conforme o Atlas da Violência 2024, produzido pelo Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea) e pelo Fórum Brasileiro de Segurança Pública, Brasília registrou, no ano passado, taxa de 6.9 homicídios para cada 100 mil habitantes, sendo a terceira menor entre todas as capitais de estado do Brasil. Este resultado representa um marco histórico e reflete políticas públicas assertivas, uso intensivo de tecnologia e integração das forças policiais.
Em 2025, ações estruturantes foram ampliadas, das quais se destaca:
- Lançamento do Programa Acolhe DF (Decreto nº 47.423/2025), para reinserção social de dependentes de álcool e drogas;
- Inauguração do Hotel Social, garantindo pernoite, alimentação, higiene pessoal e abrigo para pessoas em situação de rua e seus animais de estimação;
- Benefício financeiro emergencial de R$ 600,00 a pessoas em vulnerabilidade extrema;
- Encaminhamento de pessoas em situação de rua a programas como o RenovaDF, destinado à capacitação e empregabilidade.
Os números confirmam a efetividade dessa estratégia: o 2º Censo Distrital da População em Situação de Rua (2025) apontou crescimento de 19,8% nessa população em relação a 2022 — índice inferior à média nacional de 25% —, evidenciando que o conjunto de políticas do Distrito Federal mitiga o avanço da vulnerabilidade.
Registre-se que na atual gestão foi alcançado o menor índice de homicídios dos últimos 48 anos, fruto do investimento na contratação de mais 5 mil servidores de segurança pública, na duplicação dos pontos de monitoramento eletrônico e outras ações. A metodologia de gestão da segurança no Distrito Federal é realizada de forma coordenada, contando com a atuação integrada da Polícia Militar, da Polícia Civil, do Corpo de Bombeiros, da Polícia Penal e do Departamento de Trânsito, garantindo respostas rápidas e eficientes às demandas da população.
Além disso, adota o conceito de “segurança integral”, que vai além da repressão ao crime e busca envolver ativamente a sociedade na formulação e no acompanhamento das políticas públicas voltadas à cidadania, fortalecendo o vínculo entre Estado e comunidade e assegurando resultados sustentáveis.
Diferentemente do atual Governo Federal, acredito no diálogo e na força das relações diplomáticas. Tenho, de forma reiterada, afirmado que o Governo Federal deve abandonar disputas ideológicas e adotar uma postura pragmática nas relações internacionais, abrindo canais de negociações produtivas com os Estados Unidos da América. Para este Governo do Distrito Federal, interesses geopolíticos e comerciais devem estar acima de divergências político-partidárias.
Recentemente, inclusive, promovi reunião com governadores de diversos estados brasileiros, com o objetivo de defender a abertura do diálogo direto com o governo norte-americano. Durante o encontro, enfatizou-se a necessidade de redução da tensão entre os dois países e de que haja atuação coordenada com o Congresso Nacional, visando minimizar prejuízos à economia nacional.
Por fim, com respeito, manifesto interesse em fortalecer as pontes políticas e institucionais entre os dois países.
Respeitosamente,
Ibaneis Rocha
Por Resenha de Brasília
Fonte Correio Braziliense
Foto: Ed Alves CB/DA Pres