CPI precisa de credibilidade, diz Izalci Lucas

Senador afirma que a comissão instalada para investigar fraudes no INSS será independente e "não vai passar a mão na cabeça de ninguém, seja de esquerda, seja de direita"

Depois de semanas turbulentas no Congresso, a oposição teve uma de suas principais vitórias em 2025: aproveitando uma falha de articulação política do governo Lula, conseguiu emplacar o presidente e o relator da Comissão Parlamentar Mista de Inquérito (CPMI) que investiga as fraudes no Instituto Nacional do Seguro Social (INSS). O objetivo é desgastar a imagem do governo e associar a gestão petista ao crescimento dos descontes indevidos que impactaram beneficiários da Previdência Social.

Parte dessa movimentação da oposição passou pelo senador Izalci Lucas (PL-DF), que já integrou diversas comissões no Congresso e foi o autor de mais de 300 requerimentos à CPMI, entre convocações, convites e pedidos de informação. Também foi uma declaração de Izalci, em maio, que municiou a tentativa da oposição de convocar o ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) a depor. O Correio conversou com o senador sobre seus requerimentos e suas expectativas para o trabalho da comissão. A seguir, os principais trechos da entrevista:

Qual é a importância da CPMI do INSS e por que o senhor quis integrá-la?

Primeiro, eu sou auditor. Segundo, participei de todas as CPIs no Congresso, depois que entrei como deputado e como senador: Petrobras, Lei Rouanet, Carf, 8 de Janeiro, Covid, Chapecoense, Bets; então, é minha praia. Quando houve essa roubalheira toda, comecei a me preparar, porque eu já sabia que ia ter uma CPI. E durante o recesso, aproveitei para dar uma aprofundada nisso. Fiz o levantamento global de tudo. Independentemente de questão partidária, de prazo, de tempo, a gente vai fazer uma CPMI bastante transparente, independente, porque não haverá aquela narrativa que normalmente a esquerda constrói. A gente vai tocar isso muito tecnicamente.

O senhor apresentou mais de 300 requerimentos à CPMI. Por que esse volume de pedidos e no que consistem?

Evidentemente que eu já fiz os requerimentos de convocações dos principais atores, que são os donos das instituições, os presidentes, os tesoureiros, as empresas que serviram como forma de lavagem de dinheiro. Pedi a quebra de sigilo bancário de muitos desses atores, muitos requerimentos de informação. Estou pedindo informação para AGU, CGU, INSS, Coaf; os processos que estão tramitando já, alguns inquéritos e alguns processos que já estão na Justiça. Fiz todos os requerimentos necessários para desvendar tudo isso. Acho que vai haver pouco espaço para alguém fazer alguma coisa diferente.

Como impedir que a CPMI vire uma guerra de narrativas e foque no que precisa ser esclarecido?

Primeiro, você não pode ser seletivo. Se você pegar o sindicato do irmão do Lula, ele não está sendo investigado. Então, você não pode ser seletivo, tem de investigar todo mundo. Segundo, nós precisamos também preparar uma legislação que impeça esse tipo de coisa. É preciso aperfeiçoá-la. Você tem de ouvir as pessoas. A gente já sabe o que aconteceu e, evidentemente, isso aconteceu lá atrás, começou com a Contag (Confederação Nacional dos Trabalhadores na Agricultura). Antigamente, para você se aposentar, bastava a declaração do sindicato. O cara conseguia aposentadoria e já assinava autorização para descontar um monte de coisa. E o sindicato sempre foi a renda da esquerda, né? Quando perderam a contribuição sindical obrigatória, eles partiram para buscar outras fontes de renda, e essa é uma delas.

Como foi a articulação da oposição que derrotou o governo na CPMI nesta semana?

A oposição trabalhou de forma silenciosa, verificando os membros e toda a situação para apresentar uma opção, porque a gente não aguenta mais. A CPMI precisa ter credibilidade. Não podemos perder mais credibilidade na CPMI nem nas CPIs. É o que está acontecendo. Você vê que, nas últimas, houve narrativas, relatório praticamente pronto, seletivo. Nós optamos por buscar a presidência e a relatoria para poder fazer a coisa transparente. Não temos intenção de passar a mão na cabeça de ninguém, seja de esquerda, seja de direita.

Com base em uma declaração sua, os governistas apresentaram um requerimento para convocar o ex-presidente Jair Bolsonaro. Como analisa esse movimento?

Qual é a estratégia dos petistas e da esquerda? Eles criam a narrativa, constroem uma mentira e ficam repetindo várias vezes. Não foi nada disso. Eu fui eleito em outubro de 2018. De outubro a fevereiro, há um intervalo entre a eleição e a posse. Nesse período, você conversa com muita gente. Uma das pessoas com quem eu conversei foi a Associação dos Peritos (Médicos Federais). Estive na sede deles, e eles me fizeram uma apresentação. Queriam melhorar a carreira deles, melhorar a produtividade. Disseram que, com a falta de peritos, da forma como estava, havia muitas suspeitas de irregularidades nas aposentadorias, que bastava a declaração do sindicato, seguro defeso, para receber os benefícios. Ninguém citou nome de ninguém ou disse que roubou. Nada disso. O Bolsonaro não tinha nem tomado posse ainda, estava na transição de governo. Eu nem era do PL. Disse: “Procure lá no Centro Cultural Banco do Brasil — que é onde está sendo a transição —, faça a apresentação para eles. E o que aconteceu? Com 17 dias de governo, o Bolsonaro encaminhou a Medida Provisória 871 (de 2019), cuja comissão eu fui presidente. E que previa, inclusive, recadastramento anual. E quem votou contra? Os petistas.

O senhor avalia que a CPMI vai apontar o atual governo como principal responsável por permitir as fraudes no INSS?

Primeiro, você tem de avaliar o volume das fraudes. Observa-se que, de 2019 a 2021, os valores eram razoáveis. Em 2022, no último ano de governo (Bolsonaro), aumentou um pouco. Agora, o crescimento exponencial foi em 2023 e em 2024, no governo Lula. Há atas do Conselho do INSS alertando para essas coisas, e nenhuma providência foi tomada. Qual a providência que o ministro (Carlos Lupi, então à frente da Previdência Social) tomou? Nenhuma. Enrolou dois anos nessa brincadeira. Foi exatamente o prazo para essa roubalheira toda. Com relação ao irmão do Lula: a instituição dele é a segunda maior em arrecadação. Será que não merece investigar? Lógico que sim. 

Por Resenha de Brasília

Fonte Correio Braziliense      

Foto: Saulo Cruz/Agência Senado