Juventude do DF está mais ativa e estável no mercado de trabalho formal

Aumento de 3,3% no nível de ocupação, queda na taxa de desemprego de 29,8% para 28,7% e avanço dos registros no regime celetista mostram como os jovens brasilienses transformam suas trajetórias profissionais com estratégia e visão de futuro

A juventude da capital federal está firme no mercado de trabalho. De acordo com o Boletim Juventude e Mercado de Trabalho, elaborado pelo Instituto de Pesquisa e Estatística do Distrito Federal (IPEDF) em parceria com o Departamento Intersindical de Estatística e Estudos Socioeconômicos (Dieese), a taxa de desemprego entre jovens de 15 a 29 anos caiu para 28,7% em 2024, ante os 29,8% registrados em 2023. Já a taxa de inserção produtiva subiu de 67,9% para 69,3% no mesmo período.

O nível de ocupação entre os jovens no DF cresceu 3,3% em 2024 em comparação com o ano anterior, com destaque para a faixa etária de 18 a 24 anos, que registrou um avanço ainda maior, de 5,6%. Esse crescimento foi impulsionado, principalmente, pelos setores de serviços e comércio, responsáveis por mais de 91% das vagas ocupadas por jovens no DF. O setor de serviços liderou, absorvendo 68,4% da juventude empregada, enquanto o comércio e a reparação responderam por 23,4% das ocupações.

Os dados apontam, ainda, um fortalecimento do regime celetista (CLT) em 2024, com mais de 80%, sobretudo no setor privado (62,7%). Desse total, a maioria contando com o registro de seus contratos de trabalho na carteira assinada (51,8%) e uma parcela menor, mas considerável, sem registro (10,9%).

Segundo o boletim, a participação masculina (72,9%) ainda é superior à feminina (65,8%), mas ambos os índices demonstram o envolvimento ativo da juventude no desenvolvimento econômico regional.

Desafios

Por trás desses números, estão histórias de jovens que encaram os desafios do mercado com objetivos claros e visão de futuro. Muitos usam o trabalho formal como trampolim para empreender ou prestar concursos. Um exemplo disso é a assistente de sucesso do cliente e estudante Ana Laura Rodrigues, 21 anos, moradora de Taguatinga Sul, que iniciou no mercado de trabalho aos 17 com um estágio. Ela vê no trabalho formal uma ponte para a realização pessoal e profissional.

“Escolhi ser celetista porque é uma forma de escalar no mercado e garantir estabilidade financeira para investir nos meus projetos pessoais”, explica. Estudante de gastronomia, com sonho de focar mais na sua doceria, Ana Laura planeja seus próximos passos. “Não pretendo seguir no regime CLT por muito tempo. Quero empreender na minha área, esse é o meu desejo. Mas, por enquanto, o emprego com carteira assinada me dá segurança para me preparar para isso”.

Já para a analista financeira Carolina Marques, 29, de Samambaia Sul, a ascensão no setor privado traz dilemas na maternidade. Com uma trajetória marcada por crescimento, iniciando aos 19 anos, ocupou cargos de liderança na área administrativa de empresas de saúde.

“Comecei como estagiária e, aos poucos, fui crescendo. Já fui supervisora, coordenadora de unidade e coordenadora regional. Uma parte de mim pensa no concurso público por ser uma estabilidade, como mãe, para não arriscar. Mas uma parte ainda pensa na parte do crescimento profissional e pessoal que empresas privadas nos trazem”, revela. “Acredito que a vantagem é o aprendizado que adquirimos no caminho”, completa.

A fisioterapeuta Ana Jayra, 27, de Planaltina, iniciou sua vida profissional aos 18 em um posto de gasolina. Com o salário, pagou a faculdade de fisioterapia e, hoje, atua na área da saúde. “Meu pai sempre empreendeu, mas nunca me vi nesse caminho. Agora, estou focada em concursos públicos pela estabilidade”, afirma. Para ela, o regime CLT foi importante como porta de entrada, mas tem suas limitações. “É a principal forma de os jovens entrarem no mercado, mas não oferece a mesma segurança que um cargo público, principalmente a longo prazo”.

Pressão econômica

Para o advogado trabalhista Luis Gustavo Nicoli, a presença cada vez maior dos jovens no mercado se explica por dois fatores: necessidade e estratégia. “A pressão econômica que muitas famílias enfrentam leva os jovens a procurar renda própria ainda mais cedo, mas, além disso, há um movimento de valorização da formalização via CLT. O regime celetista oferece segurança, salário fixo, férias, 13º, FGTS e previdência, benefícios que ganham peso em um cenário de instabilidade”, disse.

Já a psicóloga e especialista em recursos humanos Mônica Ramos aponta que essa geração busca equilíbrio. “Eles demonstram um perfil pragmático, que equilibra propósito com previsibilidade de renda e vê o trabalho formal como um passo estratégico para o futuro”, conclui.

Por Revista Plano B

Fonte Correio Braziliense

Foto: Vitória Torres/CB