Com a floração dos flamboyants, os moradores do Distrito Federal podem observar paisagens mais belas e coloridas. As árvores, nativas de Madagascar e que podem chegar a 12 metros de altura, se adaptaram perfeitamente ao clima do Cerrado, tornando-se as estrelas durante o período de floração e trazendo benefícios para toda a fauna. A Companhia Urbanizadora da Nova Capital (Novacap) estima que o DF possui cerca de 100 mil plantas dessa espécie, que aparecem em paisagens do Plano Piloto, UnB, Noroeste, Sudoeste e até no Zoológico de Brasília.
No Noroeste, vários prédios possuem flamboyants de estimação. Danielle Santos é síndica profissional de um condomínio na SQNW 108 e conta que o local possui várias árvores da espécie, plantadas logo que ele foi construído.
“Uma síndica antes de mim plantou as árvores junto com os moradores. Ela adorava e quis plantar vários no jardim do prédio. Hoje em dia, até para podar e fazer manutenção, todos ficam desconfiados e perguntam ‘o que vocês estão fazendo com as flamboyants’? São muito apegados”, comenta Danielle.
Andressa Montenegro é moradora do condomínio desde 2017, época de sua inauguração, e viu todo o processo de plantação dos flamboyants. A empresária diz que valoriza a espécie: “Eu os vi crescendo, defendo muito”, diz ela, que é dona de um bazar no Noroeste.
Estratégia
Conhecida por suas cores intensas e copas repletas de flores, a árvore costuma “sacrificar” suas folhas e retira todos os nutrientes de que precisa, ficando com as flores ainda mais evidentes. Além de embelezar a vista, a perda das folhas também se torna uma vantagem em relação às outras árvores, se tornando mais atrativa para os insetos e animais e aumentando sua polinização. “Ela se torna uma árvore bem chamativa. Isso é uma estratégia que a espécie adotou para atrair seus polinizadores”, explica o engenheiro florestal Tiago Araujo, gerente de contratos da Novacap.
Essas plantas têm um papel ecológico muito importante para a fauna. Mesmo não sendo nativa do bioma, o flamboyant se adaptou muito bem e passou a ajudar na alimentação de diversos animais e insetos, como beija-flores e espécies de abelhas nativas. “É uma planta que fornece uma grande quantidade de pólen e néctar. Essa árvore cumpre esse papel de trazer alegria para a fauna, ela se inseriu nesse bioma e serve de alimento para nossas espécies de aves e insetos polinizadores”.
O vermelho é a cor mais comum e chamativa da espécie, que possui variações em amarelo e laranja, que, na paisagem, apontam para o início da temporada de chuvas no Distrito Federal, com períodos de floração determinados geneticamente, entre setembro e outubro. Na 208 Sul, as árvores que enfeitam os canteiros entre o Eixão e o Eixo L cumprem sua função de demarcação climática da comunidade.
A empregada doméstica Daiana Alves de Souza, 43 anos, mora em Planaltina, mas passa diariamente em frente aos canteiros na Asa Sul. Para ela, as árvores não só apontam a chegada do período da chuva, mas também preveem uma época do ano mais colorida na capital: “Eu acho a natureza do DF muito bonita, tanto no Plano quanto em Planaltina, principalmente nesta época do ano, quando a chuva começa”, diz.
Também de Planaltina, Amanda Pereira, 27 anos, trabalha perto do prédio da SQNW 108, no Noroeste, e, ao passar em frente aos flamboyants, lembra da sua infância na área rural. “Tinham várias árvores como essa no quintal da chácara onde eu morava. Quando eu era pequena, brincava com meus irmãos”, conta.
“Hoje, eu só as vejo em lugares urbanizados, aqui próximo de onde trabalho. Moro no Recanto das Emas, e lá não tem esse tipo de planta”, diz a bartender.
Mudanças climáticas
O engenheiro florestal Tiago Araujo explica que, apesar da espécie já ter período de florescimento preestabelecido, o clima pode agir de forma indireta nesse processo. “Às vezes, pode acontecer de cair uma chuva e acelerar o processo de floração ou, até mesmo, não chover e acabar atrasando um pouco o processo. A planta usa o clima para se nortear e saber qual o melhor período para florescer e gerar frutos, porque é uma espécie que precisa da água da chuva, por ter uma grande floração que gasta muita energia”, esclarece.
Mesmo no cenário atual de mudanças climáticas, os flamboyants continuam florescendo e enfeitando a capital sem alterações – pelo menos, por enquanto. “No início do ano, alguns flamboyants floresceram, o que não é muito comum. Como é uma espécie que consegue se adaptar facilmente a mudanças climáticas, ainda não notamos nenhuma diferença significativa, mas isso pode mudar no futuro, caso essas alterações climáticas continuem acontecendo”, diz o especialista.
Colaborou Laíza Ribeiro*
* Estagiários sob a supervisão de Tharsila Prates
Por Resenha de Brasília
Fonte Correio Braziliense
Foto: Bruna Gaston CB/DA Press