Parque da Cidade recebeu evento dedicado à Prematuridade

A campanha Novembro Roxo reforça a importância do manejo com bebês nascidos antes do tempo. Na véspera do Dia Mundial da Prematuridade, celebrado hoje, corrida e caminhada mobilizaram profissionais de saúde e famílias no Parque da Cidade

Dois destinos de vencedores atletas de Brasília se cruzaram, nas pistas do Parque da Cidade, neste domingo (16) dedicadas à 2ª Corrida e Caminhada da Prematuridade, por iniciativa da Sociedade de Pediatria do Distrito Federal: o medalhista olímpico Caio Bonfim e o palestrante e influenciador digital Mateus Moreira.

“Vivi duas vezes (em família) a questão dos bebês prematuros. Acho importante estar aqui, dar uma luz para essa causa. Acho que, para todos os pais que passaram por isso, ou que estão passando, é vital dar uma força, e incentivar, encorajando o fato de ser apenas um momento delicado, mas que, no final, vai dar tudo certo”, avaliou Caio Bonfim.

Morador de Águas Claras, o outro atleta, de levantamento de peso, Mateus, 25 anos, nascido prematuro com 37 semanas, conta do desenvolvimento do trabalho nas redes sociais, em que mobiliza quase 19 mil seguidores. “Tive mielomeningocele (malformação congênita) e hidrocefalia, e a prematuridade veio em decorrência disso. Na internet, esclareço que não é o fim do túnel — estou praticando esportes e vivendo”, conta ele, que já encabeçou publicidade em vídeos de marcas de energético e de sabão em pó e sonha em fazer parte de uma competição paraolímpica.

Namorada de Mateus há 11 meses, a educadora social Letícia Gusmão, 32, igualmente, afugenta estigmas. “Nunca pensei que seria difícil: fiquei encantada pelo Mateus. Enfrentamos preconceito o tempo inteiro. Pessoas ficam encarando, mesmo, como se fosse algo surreal. Dizem que sou um ‘anjo’ na vida dele; discordo: a deficiência em nada impede de namorarmos”, observa.

O Dia Mundial da Prematuridade é celebrado hoje. Sem pódio, mas com entrega de medalhas, a premiação estava no rosto e na trajetória de vida dos participantes. 

“A mortalidade infantil traz o impacto do nascimento prematuro: metade das mortes, até o primeiro ano de vida, vêm associadas à prematuridade, muito em decorrência de problemas na assistência neonatal”, explica Virgínia Lira, médica há 23 anos, e há quase 20 especializada em neonatologia (pediatria aprofundada em recém-nascidos). No evento do Parque, ela explicou a importância das vacinas e funções da incubadora: “Ela é como se fosse o nosso útero, propiciando o aquecimento da criança e a manutenção de um ambiente umidificado. Bebês, geralmente, usam a incubadora até atingirem peso superior a 1,6 kg. “Em torno de 32, 33 semanas, eles já conseguirão estar junto da mãe, para um cuidado intensivo”, diz, atentando que pessoas com bebê prematuro tendem a repetir casos em outras gestações.

Uma montanha-russa

A ginecologista Amanda Mota, 35, mãe dos gêmeos Guilherme e Henrique, esteve do outro lado. “O baque é muito grande. Como mãe, a gente vive outra realidade daquela enquanto médica”, conta. “Foram 30 longos dias na UTI; a sensação era a de que, a cada passo, voltávamos dois. Não foram fáceis as subidas e descidas da verdadeira montanha-russa; mas veio o final feliz, com meus filhos em casa”.

O medo das intercorrências na internação, a possibilidade de morte súbita, colapso pulmonar e outras complicações pairavam. “Todo dia é um vencido, na UTI”, comentou Amanda, ao lado do marido, o médico Daniel Michels. Outro profissional, referência na cidade, foi vital para a superação: “Era Deus no céu, e o doutor Carlos Zaconeta (integrado ao evento no parque) que ajudava 100%. Ele determinava, e nós dizíamos amém”, lembrou.

Recém-saído de plantão noturno, o neonatologista Aldo Ferrini Filho veio do Hospital Materno-Infantil de Brasília (Hmib) para prestigiar a causa da caminhada/corrida. “A prematuridade é um dos maiores ocasionadores das internações dos bebês recém-nascidos em UTI neonatal. Ter acompanhamento de perto por uma equipe especializada, médicos, enfermeiros, fisioterapeutas, fonoaudiólogos, é de extrema importância para uma sobrevida do bebê. Além da qualidade de vida, atenua a incidência de comorbidades”, avalia. Aldo atenta para a necessidades de a gestante (nestes casos) precisar de acompanhamento por uma equipe de obstetrícia especializada.

Pela primeira vez no evento organizado pela Sociedade de Pediatria do DF, os auxiliares administrativos Gilmar, 31, e Fabiana da Silva, 33, vieram de Águas Lindas para a comunhão ao lado de outros pais que celebravam as conquistas de filhos saudáveis. Angelina, cinco meses, e Aurora, de um ano e meio, despontaram em 2025 e 2024, trazendo alegrias e sustos, ao nascerem com 715 gramas e 1,4 quilo. “É importante abraçar a causa. Vivenciamos muito com enfermeiras e médicas que estão aqui. Foi importante vencermos todas as barreiras; cada graminha a mais nelas, que desenvolveram bem, sem sequelas, é uma etapa vencida”, celebra Gilmar.

Por Resenha de Brasília
Fonte Correio Braziliense
Foto: Ricardo Daehn / CB DA Press