O cultivo de café no Distrito Federal, iniciado há pouco mais de uma década, vem ganhando destaque pela qualidade dos grãos produzidos, mesmo com uma produção em pequena escala. Os desafios da produção cafeeira brasiliense foram tema do CB.Agro — parceria entre Correio e TV Brasília. Em conversa com os jornalistas Adriana Bernardes e Marcelo Agner, o superintendente do Senar-DF, Eduardo Schulter, e o gerente de negócios do Sebrae-DF, Carlos Cardoso, explicaram como o clima, o solo e o investimento em tecnologia têm impulsionado os chamados cafés especiais da região. Eles também falaram sobre a capacitação dos produtores, as práticas sustentáveis no campo, o potencial turístico do setor e os prêmios que já colocam o café brasiliense entre os melhores do país.
Há pouco mais de uma década, o DF começou a produzir café e já se destaca não pela quantidade, mas, sim, pela qualidade. Pode explicar isso?
Eduardo Schulter: O DF, por suas características, tem propriedades pequenas. Então, não há possibilidade de grandes volumes de produção, seja no café ou em outras culturas. Por isso, o produtor busca inovar, trabalhar com alta produtividade e tecnologia. O café surge como uma alternativa interessante para agregar valor de forma rápida, sem necessidade de processamento complexo. Brasília também tem condições climáticas favoráveis, como boa altitude e estações bem definidas. Assim, os produtores investem em cafés especiais.
Hoje, são 43 produtores no DF em escala comercial. Onde essa produção é vendida? Alguma parte é exportada?
Carlos Cardoso: A produção é comercializada diretamente pelo produtor ou em cafeterias do DF que oferecem esses cafés ao consumidor. É uma produção pequena, mas o trabalho conjunto do Sebrae, do Senar, da Emater e de outros parceiros busca dar visibilidade e mostrar o potencial de Brasília, estimulando que mais produtores entrem no mercado comercial. Assim, o café gera renda e emprego nas propriedades.
Como o Sebrae atua, junto ao Senar, para capacitar os produtores e tornar o negócio viável? Quais desafios vocês enfrentam?
Carlos Cardoso: O sistema FAPE-Senar é um grande parceiro do Sebrae. Temos o Programa de Assistência Técnica e Gerencial, que une teoria e prática. Ensinamos gestão — controle de contas, compras, manejo — e damos assistência técnica para melhorar a eficiência da produção e reduzir custos. Depois, entramos na fase de comercialização, com feiras e eventos que permitem ao produtor oferecer seu produto ao mercado consumidor.
Há iniciativas para transformar a cadeia do café em uma rota turística, como acontece com vinhos e queijos?
Carlos Cardoso: Sim. Estamos construindo essa etapa, criando experiências de turismo rural. A ideia é que o produtor receba turistas em sua propriedade, mostrando a produção de café e de outros produtos locais — queijos, vinhos, chocolates — em uma harmonização de sabores. Isso fortalece o turismo e o comércio regional.
Historicamente, estados como Minas Gerais, São Paulo, Rio de Janeiro e Paraná marcaram a produção de café. Brasília pode conquistar destaque nacional?
Carlos Cardoso: Sim, há espaço. Temos clima e solo favoráveis. Nossa limitação é o território pequeno, mas compensamos com técnicas e produtividade. O objetivo não é competir em escala, mas em valor agregado. Com o prêmio que estamos lançando para reconhecer os cafés do DF, queremos mostrar ao Brasil e ao mundo que produzimos com qualidade e certificações internacionais. Isso fortalece tanto o turismo quanto o consumo local nas cafeterias.
Quais são os concorrentes de Brasília nesse segmento de cafés especiais?
Carlos Cardoso: Os estados tradicionais — Minas Gerais, Espírito Santo e São Paulo — são os principais. O que buscamos é dar visibilidade ao que já produzimos, mesmo com apenas 43 produtores em escala comercial, para expandir essa cadeia.
Eduardo Schulter: Minas é o principal polo da cafeicultura, mas outros estados, como Rondônia e Rio de Janeiro, também vêm se destacando. O EnoDF e outras iniciativas querem posicionar Brasília nesse cenário. O consumidor busca diversidade — quer provar cafés de diferentes regiões — e o DF pode oferecer isso. Em novembro, teremos um estande na Semana Internacional do Café, em Belo Horizonte, levando produtores locais e cafés premiados.
Falando em café premiado, existem produtores do DF com destaque nacional e internacional?
Eduardo Schulter: Sim. Um exemplo é o Café Minelli, do Lago Oeste, que venceu o prêmio da rede italiana Illy, superando cafés de Minas Gerais e sendo reconhecido internacionalmente. Também há premiações da OLAM e de outras instituições. A ideia do nosso prêmio local é valorizar tanto os produtores já premiados quanto os pequenos, que estão começando, com um ou dois hectares, e buscando viabilidade no negócio.
Por Resenha de Brasília
Fonte Correio Braziliense
Foto: Marcelo Ferreira/CB/D.A Press