Criança de 8 anos, filha de pais surdos-mudos, ganha prêmio de poesia

Isabel sempre gostou muito de ler e, quando apareceu a oportunidade, a mãe sugeriu que ela contasse sua história

Com apenas 8 anos, a pequena Isabel Lemos ganhou o primeiro lugar do Prêmio Candanguinho de Poesia Infantojuvenil, na categoria de 6 a 12 anos, com a poesia Do Pequizeiro e a Menina CODA. CODA é sigla para “Child of Deaf Adults”, que em português significa filho(a) de adultos surdos. Isabel possui ambos os pais surdos-mudos, sendo ela inserida na cultura e linguagem surda e ouvinte no mundo afora. 

A premiação, que ocorreu nesta sexta-feira (7/11), às 10h, no Teatro Nacional Cláudio Santoro, contemplou três categorias de novos artistas, incluindo crianças com deficiência. Para o primeiro lugar, o prêmio foi de R$15 mil, para o segundo e terceiro luga,r o valor foi de R$10 mil e R$5 mil, respectivamente. 

Isabel aprendeu a falar português na escola e, em casa, sempre se comunicou com os pais pela Linguagem Brasileira de Sinais (Libras). Na poesia que compôs, contou um pouco de sua rotina cansativa, vivendo em duas realidades diferentes. 

Priscila Oliveira, 35, é mãe da menina e de outras três crianças ouvintes. Ela está encantada com o talento da filha. Isabel sempre gostou muito de ler e, quando apareceu a oportunidade, a mãe sugeriu que ela contasse sua história: “Ela vive em dois mundos diferentes. Cresceu com pais surdos, tem dois irmãos autistas e sabe falar duas línguas. Parece que o sentimento de responsabilidade é pesado”.

Isabel começou a escrever com a mãe, desenvolveu o poema, palavra a palavra, e pediu que a professora corrigisse. “Não esperava que ela iria ganhar o prêmio, achei que seria apenas um registro no livro. Fiquei muito emocionada, porque a história é verdade e a palavra CODA é muito importante para nós”, contou a mãe, com largo sorriso. 

O Prêmio

Em sua terceira edição, o Prêmio Candanguinho de Poesia Infantojuvenil tem papel fundamental no desenvolvimento literário das crianças. “Estamos inserindo, na infância e adolescência dos nossos jovens, uma linguagem artística e cultural que é extremamente importante para a vida. É o exercício da palavra por meio dos poemas — uma oportunidade única”, destacou o secretário de Estado de Cultura e Economia Criativa do Distrito Federal, Cláudio Abrantes.

Com a poesia Meu Território, a estudante Letícia Machado, de 14 anos, também se destacou na premiação, conquistando o terceiro lugar na categoria de 13 a 17 anos. “Minha poesia foi inspirada no lugar onde eu morei, tanto o espaço físico quanto o que se passava na minha mente. A arte, pra mim, é tudo que se expressa”, afirmou.

Já Marmenha do Rosário, diretora da Biblioteca Nacional de Brasília e idealizadora do projeto, explica que o Candanguinho surgiu para valorizar as crianças e jovens, incentivando-os a se tornarem os próximos autores da região. “Entendemos que todas as crianças, com deficiência ou não, devem ser incluídas nessa ação, para que possamos formar, no futuro, um Distrito Federal com bons escritores, escrevendo a nossa literatura candanga”, completou.

Além dos prêmios, a iniciativa também conta com o lançamento de um livro, uma coletânea de 90 poesias premiadas, inscritas no concurso, disponível em formato impresso, Braille, digital e audiobook.

* Estagiária sob supervisão de Nahima Maciel

Por Resenha de Brasília

Fonte Correio Braziliense

Foto: Walkyria Lagaci / CB Press