Familiares, alunos e admiradores se reuniram ontem, no Cemitério Campo da Esperança da Asa Sul, para se despedir de Moo Shong Woo, conhecido por todos como Mestre Woo. O médico, arquiteto e instrutor de tai chi chuan morreu no sábado, aos 93 anos, vítima de um infarto. Reconhecido como um dos grandes nomes da cultura corporal chinesa no Distrito Federal, ele marcou gerações com sua presença serena e seu compromisso com a saúde integral. O sepultamento ocorreu às 16h.
Entre os presentes estavam alunos, autoridades públicas, políticos e pessoas que, ao longo de décadas, encontraram no mestre não apenas um instrutor, mas um guia para a vida. Para a filha, Tzulia Woo, o pai transmitiu muito mais do que técnicas e exercícios: deixou uma filosofia para viver bem. “Ele nos ensinava a cuidar do corpo, da mente, do ambiente, a viver em sociedade e a compreender que tudo tem uma razão”, relatou.
Segundo ela, Mestre Woo sempre pediu que a própria despedida fosse encarada como celebração. “Meu pai dizia para não chorar no velório dele, que seria uma festa de uma vida realizada, porque ele aprendeu muito e pôde ensinar a tantas pessoas”, contou, emocionada.
Aristein Woo, filho mais velho, reforçou o espírito ativo do pai, preservado até os últimos dias. “Ele fazia equitação, hidroginástica, fisioterapia, pilates. Em uma dessas práticas, passou mal e foi levado ao hospital. Fizeram tudo que era possível, mas era mesmo a hora dele. E partiu de forma tranquila, suave”, lembrou.
O deputado distrital Chico Vigilante (PT/DF), responsável pela homenagem da Câmara Legislativa ao mestre, em 2016, compareceu para prestar solidariedade. “Ele só transmitia paz, amor e carinho. É uma perda enorme para o Distrito Federal”, assinalou
Para ele, a presença de Woo fará falta em um momento tão turbulento. “Dói dizer adeus a alguém que viveu e pregou a humanidade que sonhamos. Em um mundo com tantas guerras e conflitos, queria que ele estivesse entre nós por mais tempo”, lamentou.
O ministro aposentado do STJ José de Castro Meira também prestou homenagem, lembrando que Woo se dedicou ao próximo sem esperar nada em troca. “Mesmo com origem oriental, tornou-se um brasiliense. Sua vida foi exemplar e transmitiu sempre tranquilidade — uma lição a todos nós”, afirmou.
Histórias
Entre os alunos que conviveram com Mestre Woo, as recordações são marcadas por afeto e transformação pessoal. Davi Carvalho, policial aposentado de 67 anos e um dos primeiros alunos do mestre, o descreveu como uma figura determinante em sua vida. “Ele mudou muita coisa em mim. Ensinou artes, princípios, caráter. É difícil falar de um homem que tem uma história tão marcante”, disse, emocionado.
Iara Márcia Almeida Costa, facilitadora de tai chi chuan e aluna desde 1998, afirmou que os ensinamentos de Woo acompanham o praticante por toda a vida. “O tai chi é aprendizado constante, porque nosso corpo muda. Os benefícios vão se incorporando ao longo da vida. Encontrá-lo foi um presente”, comentou.
Para ela, dois ensinamentos sintetizam o legado do mestre: persistir e compartilhar. “Ele dizia para nunca desistir e para transmitir aquilo que recebemos. É o que faço: passo adiante a maravilha que ele trouxe para nós. Tudo que sei, aprendi com ele”, celebrou.
Biografia
Nascido em 3 de março de 1932, em Chiayi, Taiwan, Moo Shong Woo cresceu imerso nas tradições das artes marciais e da medicina chinesa. Formado em arquitetura, decidiu aprofundar-se nos estudos de medicina nos Estados Unidos, nos anos 1950, buscando unir corpo, mente e filosofia.
Chegou ao Brasil em 1961, vivendo em Minas Gerais e São Paulo antes de se mudar definitivamente para Brasília, em 1968. Nos anos 1980, fundou a Associação Being Tao (ABT), instituição que consolidou práticas como tai chi, meditação, respiração, automassagem e saúde integral.
Em 1974, iniciou as aulas na Entrequadra 104/105 Norte, espaço que, mais tarde, se tornaria a Praça da Harmonia Universal — hoje patrimônio cultural imaterial de Brasília, por força da Lei Distrital nº 3.951, de 2007.
Mestre Woo deixa como legado não apenas técnicas de movimento, mas uma filosofia de vida. Sua atuação pública, gratuita e contínua transformou a prática do tai chi chuan no DF e o consagrou como uma das figuras mais emblemáticas da capital, lembrado por sua serenidade, dedicação e espírito comunitário.
Por Resenha de Brasília
Fonte Correio Braziliense
Foto: Marcelo Ferreira/CB/D.A Press











