A cobertura vacinal do Distrito Federal está abaixo de 90% para doenças como Hepatite A Infantil (86,22%), Hepatite B (85,58%), Meningo C — contra meningite — (83,67%), Rotavírus (87,43%), Varicela — catapora — (89,98%) e Febre Amarela (72,71%). As informações são da Secretaria de Saúde do DF (SES-DF).
No entanto, três imunizantes conseguiram bons dados. Segundo o Ministério da Saúde, nos primeiros seis meses de 2024, a vacina BCG atingiu 107,13% de cobertura, ultrapassando o índice preliminar do último ano de 99,96%. A primeira dose da Tríplice Viral (Sarampo, Caxumba e Rubéola) conseguiu passar o valor proposto com 126,90%. As duas doses precisavam de 95% de cobertura. Segundo a SES-DF, a dose de Hepatite B (recombinante) também conseguiu ultrapassar os 90% com 116,90%.
Ainda segundo o Ministério da Saúde, a Penta (contra a difteria, o tétano e a coqueluche ou pertussis, as doenças invasivas pela bactéria Haemophilus influenzae tipo B e a Hepatite B) registrou a cobertura de 85,56%; Pólio Oral (80,59%); Pneumo 10 (83,10%); Pneumo 10 (Primeiro reforço) (86,35%); Tríplice Viral (Segunda dose) (81,07%); e Pólio Injetável (VIP) (85,49%). As doses da Penta, Pneumo 10, e Pólio precisam alcançar o índice de 95%.
Conscientização dos pais
Viviane Sousa, 30 anos, estava no posto de saúde do Lúcio Costa com o filho Joaquim Gabriel. Ela sempre mantém a vacinação dele em dia e considera importante manter o esquema vacinal atualizado. Viviane afirma que os funcionários do postinho cobram dos moradores essa regularidade quanto a imunização. “Sempre quando tem campanha, eles avisam para podermos comparecer”. Viviane acredita que seguir com as vacinas atualizadas é essencial principalmente pelo fato da interação de Joaquim no cotidiano da escola. “Porque ele está lá com os outros amiguinhos e agora vive gripado, já que esse tempo não ajuda.
A autônoma Simone Braz, 43 anos, estava no posto de saúde do Guará para fazer a atualização da caderneta de vacinação dos filhos. Ela tem 6 crianças no total, mas no dia estava acompanhada do filho Vitor Daniel de 10 anos, Júlia Dalila de 7 anos e Lara Beatriz, 15 anos. “Eu faço questão de manter a imunização de todos em dia desde que eles nasceram”. Simone reconhece a importância da vacinação tanto individualmente, como família e também para viver em sociedade. “E quando eles ficam doentes, geralmente quando gripam, a gente vê que faz muita diferença. Os sintomas são bem mais leves”.
Carlos Alberto Fialho de Almeida, 58 anos, foi levar a filha Antonella Santos Fialho de Almeida, 10 anos, para atualizar as vacinas. “Nós viremos no postinho daqui a 30 dias, para tomar a da febre-amarela”. Carlos cresceu com esse aprendizado de que tomar as vacinas é fundamental e pretende passar isso para as próximas gerações da família. “Nós nos vacinamos mesmo, e se minha filha pode tomar vacina de dengue, ela toma, de covid e outras. Não tem esse negócio de vacina faz mal”.
A importância do aumento da cobertura vacinal
Karina Castro é gerente substituta da Rede de Frio da SEDF e explica que a cobertura vacinal é a quantidade da população que já está vacinada com determinado imunizante. “O percentual de cobertura é importante para nós delimitarmos um número seguro para dizer que quanto mais pessoas vacinadas, menos possibilidade de disseminação da doença”. Segundo Karina, o Ministério da Saúde é responsável por colocar a meta de cobertura de 95%. “O que quer dizer, que eu preciso ter 95% da população vacinada de determinada faixa etária para determinada vacina, para que eu não tenha disseminação da doença”. Ela destaca que foi observada uma queda nas coberturas de vacinação desde 2016. “Até 2015 a gente tinha altas coberturas vacinais, estava dentro desse patamar, 95%, 96%, 98%”. A piora nesse quadro veio na pandemia, como Karina salienta.
Para mudar essa situação, a pasta de saúde dispõe de algumas estratégias, como a parceria com as escolas com o programa Saúde na Escola. “Esse trabalho de vacinar na escola ganhou muito fôlego no ano passado, nós passamos o segundo semestre de 2023 vacinando intensamente nas escolas. Esse ano nós já fizemos algumas ações no primeiro semestre e agora no segundo, vamos intensificar essas ações”. A pasta também trabalha com o carro da vacina para levar esse serviço até a população mais vulnerável.
Karina aponta que as pessoas precisam entender a importância de manter o esquema vacinal atualizado. “Algumas vacinas a gente tem o esquema vacinal de uma dose, outras são duas ou três. E no caso do adulto, existem as quatro vacinas principais: febre-amarela com uma dose, tríplice viral, dupla tetânica com três doses e a hepatite B com três doses”. Ela afirma que é oportuno quando um adulto vai no posto de vacinação imunizar o filho, porque ele pode aproveitar e atualizar o cartão vacinal. “A importância de cumprir o esquema vacinal preconizado é para ter um nível satisfatório de imunidade no organismo”.
Para a pessoa procurar o serviço de vacinação, basta trazer um documento de identificação e caso não tenha cartão vacinal, também pode comparecer ao posto de saúde. “Nós dispomos de um sistema de informação de imunização e conseguimos pesquisar se o esquema está atrasado e quais são as vacinas que estão faltando”.
Para a vacinação de adultos, crianças e idosos, mais de 160 unidades de vacinação estão abertas à população. Karina frisa que a vacina contra influenza já está autorizada para todos os grupos, pois a campanha prioritária foi encerrada. Karina lembra ainda, que a campanha contra a dengue segue aberta para as crianças de 10 a 14 anos, inclusive com a segunda dose disponível.
Proteção individual e coletiva
O infectologista do Hospital Anchieta, doutor Manuel Palácios, afirma que a manutenção de altas taxas de vacinação na população é fundamental por diversas razões. A começar pela proteção individual e coletiva das pessoas. “As vacinas protegem os indivíduos contra doenças infecciosas que podem causar complicações graves, incapacidade ou morte”. Ele exemplifica, com o exemplo da imunização da Penta que protege contra difteria, tétano, coqueluche, hepatite B e infecções por hemófilo sem influência tipo B.
Outra coisa é a imunidade de rebanho, que ocorre quando uma alta proporção da população é vacinada, reduzindo a circulação do agente infeccioso e protegendo aqueles que não podem ser vacinados, como pessoas com certas condições médicas ou alergias graves. Além disso, a vacinação em massa previne surtos de epidemias de doenças infecciosas. Segundo Manuel, quando a cobertura vacinal cai abaixo de um determinado limiar, geralmente de 90% a 95% para várias das doenças, o risco de surtos aumenta significativamente. “A vacina tríplice viral, que é o sarampo, caxumba e rubéola, é um exemplo de vacina que, se a cobertura vacinal for insuficiente, pode levar a surtos de sarampo, como observado em vários países nos últimos anos”.
O doutor aponta que a meta de cobertura não alcançada para vacinas como penta, pneumo 10, pólio e tríplice viral, pode resultar em uma maior susceptibilidade a surtos de doenças preveníveis, maior pressão sobre o sistema de saúde local e risco aumentado para populações vulneráveis. “Logo, manter a vacinação atualizada é crucial para proteger a saúde individual e coletiva, prevenir surtos, reduzir custos de saúde, eliminar doenças e proteger grupos vulneráveis”, frisa.
Por Amanda Karolyne do Jornal de Brasília
Foto: Tomaz Silva/Agência Brasil / Reprodução Jornal de Brasília