Pandemia vai mudar hábitos dos brasilienses para sempre, diz especialistas

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O brasiliense precisou se adaptar depois da chegada do novo coronavírus. Hábitos de higiene estão reforçados e a rotina de trabalho sofreu alterações. Para especialistas, mesmo após o fim da pandemia, o cotidiano dos moradores da capital não volta mais ao que era.

Tirar os sapatos antes de entrar em casa, usar máscaras de proteção nas ruas e aumentar os cuidados com higiene pessoal são algumas das mudanças que aconteceram na rotina das pessoas, após o surgimento da pandemia do novo coronavírus. Para se proteger, foram necessárias adaptações nos hábitos de trabalho, estudo, lazer e convívio social, o avanço de serviços como o delivery, estabelecendo um novo estado de normalidade. Na casa da designer Isabela Viana, 26 anos, por exemplo, antes de entrar, os sapatos ficam dentro de um cesto, do lado de fora.

Atenção especial para as roupas que usou na rua: ela não deixa encostar em nada. Antes de fazer qualquer outra coisa, é preciso tomar banho. “Mas o pior de tudo é não poder correr no parque. Sei que já reabriu, mas, mesmo assim, não vou. Sinto falta de andar na rua. Eu ia para todos os lugares a pé, e agora sinto muita falta”, lamenta. Antes da quarentena, ela só utilizava transporte público, mas, agora, a moradora de Águas Claras vai de carro para o trabalho, na Esplanada dos Ministérios. “Você experimenta a vida de um jeito diferente. É mais sem graça.”

Trabalhar também mudou. Isabela passou a revezar com os colegas, fica em home office de duas a três vezes na semana. Presencialmente, o horário está reduzido. Ela não vê a hora de estar livre da necessidade da máscara, uma vez que tudo passe. “É uma obsessão por limpar tudo. Entrar no carro e higienizar o volante, as maçanetas. No mercado, achar que tudo está contaminado”, reclama. Mesmo assim, ela acredita que vai manter o uso frequente de álcool em gel e evitar o uso de sapatos em casa depois que a pandemia passar.

Entre todos os hábitos reforçados por médicos, a lavagem de mãos continua sendo a mais importante, como esclarece a infectologista do hospital Sírio-Libanês Valéria Paes. “Enquanto sociedade, a gente não tinha isso como algo firme, e agora foi muito reforçada. Também aprendemos que resfriado não é bobagem, e percebemos que não é adequado que uma pessoa com infecção respiratória esteja trabalhando.”

Para a médica, com certeza as coisas não voltarão ao que eram. “A gente fazia tudo sem saber do risco, sem parar para pensar, e isso é complicado. Hoje as pessoas estão motivadas pelo medo, mas elas devem ser motivadas pelo conhecimento. Esse é o desafio do momento.” Valéria destaca ainda a importância do governo fazer campanhas para educar a população. “Estimular e estabelecer medidas que fortaleçam essas práticas de higiene é um papel fundamental para que as pessoas aprendam a lidar com essa nova situação.”

Desde os primeiros casos, o Governo do Distrito Federal tomou ações para evitar a rápida propagação do vírus, como a suspensão de aulas, eventos e atividades comerciais. Além disso, foi criado o projeto Sanear, uma parceria entre a Secretaria Executiva de Cidades, e a diretoria de Vigilância Ambiental da Secretaria de Saúde, que atua na desinfecção de espaços públicos, e orientação da população. Agentes do órgão também estão fazendo campanhas educativas durante as ações de testagem itinerante para coronavírus, com distribuições de máscaras de proteção.

Reflexão
Em meio ao novo estado de normalidade, alguns aproveitam para refletir sobre as escolhas de vida. É o caso da coordenadora pedagógica Luísa Carvalho, 25. Trabalhando em uma escola de idiomas, agora toca os atendimentos de forma on-line. “Converso com os alunos quase que 24 horas por dia, então o horário se estende muito”, afirma. “Tudo mudou na minha vida. Sou muito ativa, gosto de sair, ir ao parque, cinema, e agora, basicamente, vejo filmes em casa, falo com os amigos por videochamada e uso plataformas diferentes para ver se conseguimos estar mais perto.”

Luísa mora com a avó, que é idosa e, portanto, o cuidado é redobrado. “Compro muita coisa para a casa, por isso tem sempre um processo de higienizar o carro, as roupas, tomar banho. Quem chega, deixa os sapatos do lado de fora, entra por um corredor lateral e toma banho no chuveiro, que fica nos fundos da casa”, detalha. “Lavar bananas é algo que eu nunca imaginei que faria na vida. É um processo, e a gente está começando a se habituar agora.”

Apesar do trabalho, ela acredita que manterá alguns dos novos costumes. “Definitivamente, a gente vai ficar um pouco mais cuidadoso quando tudo acabar. Em muita coisa, eu não prestava atenção. Esses dias notei que, antes, para abrir sacola de supermercado, a gente lambia o dedo. Meu Deus, que perigo, que risco. Ninguém estava prestando atenção”, ressalta. “Está bem claro que a gente levava uma vida insustentável, colocando 400 atividades em um dia, e depois não sobrava tempo para conviver com a própria família. Por mais que seja um período difícil, também é de reavaliação de objetivos de vida.”

Comportamento
O momento de preocupação mundial em torno de uma doença ainda sem cura estabelecida, nem tampouco vacina, tem motivado nas pessoas um sentimento de reflexão e empatia, como destaca Erci Ribeiro, professora do departamento de Serviço Social do Centro Universitário Iesb. “A solidariedade não nasce com a pandemia, mas, com certeza, foi fortalecida.”

Na sociedade, como um todo, ela destaca as mudanças nas formas de comunicação e organização. “Houve um fortalecimento das conexões virtuais, e a gente percebe isso na expansão de aplicativos com videochamadas, em uma necessidade das diversas formas de interação.” Erci explica que, em momentos de crise, como o atual, é comum que as pessoas alterem comportamentos. “A sociedade não será mais a mesma depois da pandemia. A gente observa estratégias que são reinventadas e reelaboradas.”

Alguns aspectos provavelmente deverão permanecer. “Formas de expressão artística que permitem maior alcance, como as lives, continuarão. Existe, também, uma revolução nas formas de ensino e aprendizagem, com o uso de plataformas que provavelmente irão se manter”, avalia. “Além disso, canais de denúncia que atuam como forma de divulgação de violações e estratégias de enfrentamento. No âmbito de trabalho, novos cargos, novas ocupações, e novas formas de contratação estarão fortalecidas.”

» Dicas

Especialistas orientam quanto aos cuidados fundamentais durante a pandemia:— Lave as mãos com frequência

» Se não houver água e sabão à disposição, utiliza álcool em gel a 70%

» Ao chegar em casa, deixe os sapatos que usou na rua, do lado de fora

» A limpeza dos ambientes, especialmente aqueles de grande circulação, deve ser reforçada

Por Mariana Machado Correio Braziliense com informações da Gazeta do DF

Foto Reprodução