Com a chegada das baixas temperaturas e do período seco, o brasiliense deve se preocupar não só com a epidemia de dengue e a volta dos casos de covid-19. Outras doenças começam a chamar a atenção a partir deste mês. Especialistas ouvidos pelo Correio destacaram que a bronquiolite e outras doenças virais respiratórias — resfriado, gripe, pneumonia, otite e sinusite — têm sua sazonalidade de março a julho. De acordo com a Secretaria de Saúde (SES-DF), a bronquiolite não é doença de notificação compulsória e, por isso, não há registro oficial de número de casos.
A pasta disse que existe um boletim com dados sobre síndromes respiratórias agudas graves (SRAG). No documento do ano passado, que corresponde ao período de 1º de janeiro a 22 de abril de 2023, os casos de vírus sincicial respiratório (VSR) — que é o responsável por até 80% dos casos de bronquiolite viral aguda — correspondiam a 98,8% dos vírus respiratórios identificados nos pacientes.
Segundo o documento, a faixa etária de menores de 2 anos apresentou a maior proporção de casos de SRAG por vírus respiratórios, com 47,1%, seguida pela faixa etária 2 a 10 anos (28,7%), reforçando a maior ocorrência de hospitalizações em crianças nesta época do ano. Médica intensivista do Hospital Santa Marta, Adele Vasconcelos explica que isso acontece por causa da anatomia da criança e pelo sistema imune, que ainda não está bem desenvolvido nessa idade. “O pescoço é mais curto, ele respira muito mais pelo nariz, que entope muito rápido e acaba fazendo com que a insuficiência respiratória seja mais grave, principalmente no bebê abaixo de 6 meses, que tem uma criticidade maior nos casos de bronquiolite”, comenta.
“Geralmente, a bronquiolite evolui de forma rápida. A criança começa com aquela congestão nasal — nariz escorrendo, espirrando e tossindo — e, em poucas horas ou nos primeiros dois dias, pode evoluir para dificuldades respiratórias — aquele desconforto que você vê a barriga da criança subindo e descendo”, explica. “Os pais têm que observar a dificuldade respiratória na criança. Se lavar o nariz da criança e perceber que não melhora, continua cansada, é sinal de alerta”, avalia Adele.
De acordo com a especialista, em um momento de epidemia de dengue e casos de covid-19, é muito difícil dar o diagnóstico de uma possível bronquiolite. “Os sintomas dessas doenças, nas primeiras 24 horas, são muito parecidos, por isso, não tem como diferenciar muito na criança pequena, principalmente porque ela ainda não fala e não consegue explicar o que está sentindo”, ressalta. “A diferença maior (para se chegar ao diagnóstico) é a evolução mais rápida para alcançar o chiado no peito”, pondera a especialista. Nos idosos, as complicações de gripe que mais os afetam são as broncopatias inflamatórias, pneumonias virais e as complicações bacterianas, como pneumonias e sinusites.
Preocupação
A tosadora Giovanna Freitas, 21 anos, estava no Hospital Materno Infantil de Brasília (Hmib), em busca de novo atendimento para a filha, Luna Lice, de apenas 6 meses. Segundo a moradora do Guará 2, a criança está com bronquiolite. “Começou quando ela tinha uns 25 dias de nascida. Acho que o que está contribuindo para a manutenção do quadro é o contraste do tempo, uma hora tá frio, na outra está calor. Essa variação acaba deixando ela doente”, lamenta a mãe.
Preocupação
A tosadora Giovanna Freitas, 21 anos, estava no Hospital Materno Infantil de Brasília (Hmib), em busca de novo atendimento para a filha, Luna Lice, de apenas 6 meses. Segundo a moradora do Guará 2, a criança está com bronquiolite. “Começou quando ela tinha uns 25 dias de nascida. Acho que o que está contribuindo para a manutenção do quadro é o contraste do tempo, uma hora tá frio, na outra está calor. Essa variação acaba deixando ela doente”, lamenta a mãe.
Segundo Giovanna, a volta até a unidade de saúde foi por causa de uma piora nos sintomas. “Ela aparentava estar normal, porém, a professora da creche me ligou falando que ela não estava tão bem. Disse que não se alimentou, não estava respirando direito, tendo muito catarro, secreção e febre”, detalha.
Pediatra do Hospital Santa Helena, da Rede D’Or, o médico Mário Ferreira Carpi afirma que são muitos agentes infecciosos envolvidos. “Temos o vírus da gripe, o rinovírus, a parainfluenza (vírus da laringite), além de bactérias como o pneumococo”, descreve. “O que devemos ficar atentos é que, uma criança que está apenas com uma gripe, não vai ter alteração na respiração. Já aquelas que têm bronquiolite aguda ou pneumonia, seja viral ou bacteriana, terão um aumento da frequência respiratória e, progressivamente, do esforço respiratório. Nesses casos, elas devem ser avaliadas, imediatamente, por um pediatra”, alerta Carpi.
Segundo o especialista, com o aumento dos casos de bronquiolite, as unidades de atendimento de urgências pediátricas, assim como as unidades de internação — incluindo as UTIs pediátricas — ficam superlotadas. “Isso acontece, inclusive, na rede privada de hospitais, independentemente da ocorrência de uma epidemia de dengue ou de covid-19”, reforça Carpi. “Diante da situação atual, com os casos de dengue ainda aumentando concomitante ao início da sazonalidade dos casos de bronquiolite aguda, a perspectiva quanto ao sistema de saúde é muito preocupante”, avalia o pediatra.
“Ainda mais se considerarmos que o mesmo vírus sincicial respiratório, junto com o influenza (vírus da gripe), foram responsáveis por muitos casos graves na América do Norte no período de inverno por lá”, alerta. “Isso é uma espécie de termômetro para o que deve ocorrer nesta estação aqui, na América do Sul”, observa o médico. Também pediatra da Rede D’Or, a médica Geovanna Batista destaca os perigos da coinfecção, pelo fato de estarmos vivendo, no DF, uma epidemia de dengue e aumento de casos de covid-19, que estão coincidindo com a sazonalidade das doenças respiratórias. “Quando se fala de coinfecção, principalmente de covid e dengue, são duas doenças com potencial de gravidade e que têm potencial de trazer alterações cardiovasculares e problemas de coagulação”, alerta.
Para Mário Carpi, a melhor forma de se prevenir contra os vírus respiratórios é manter o cuidado com as mãos. “Lavá-las bem antes de manipular os bebês e seus objetos, assim como após limpar o nariz, evitar locais de aglomeração, principalmente com crianças pequenas”, detalha. “Além disso, é importante ter uma alimentação saudável. No caso dos bebês, aqueles que estão em aleitamento materno costumam ter uma evolução melhor. Quanto ao influenza (vírus da gripe), existe vacina segura e eficaz para a prevenção do mesmo que deve ser aplicada anualmente em toda a população, no caso de crianças a partir dos 6 meses de vida”, acrescenta Carpi.
Em nota, a Secretaria de Saúde reforçou que o período de maior prevalência da bronquiolite é de março até julho. “É quando aumenta a circulação de vários vírus respiratórios e, consequentemente, a incidência de crianças doentes”, destacou a pasta. De acordo com o órgão, a rede pública está preparada para o atendimento dos casos da doença. “Lembrando que a porta de entrada na rede é a Unidade Básica de Saúde (UBS). Em caso de necessidade, haverá encaminhamento à Unidade de Pronto Atendimento (UPA) ou ao hospital”, concluiu a nota.
Referência
De acordo com a Secretaria de Saúde, a porta de entrada para atendimento na rede pública são as Unidades Básicas de Saúde (UBS) e, após avaliação, os pacientes podem ser encaminhados para os hospitais de referência.
No caso de atendimentos de urgência e emergência, além das Unidades de Pronto Atendimento (UPA), a rede pública conta com os seguintes hospitais:
– Hospital Materno Infantil de Brasília (HMIB);
– Hospital Regional de Brazlândia (HRBRAZ);
– Hospital Regional de Ceilândia (HRC);
– Hospital Regional do Guará (HRGu);
– Hospital Região Leste (HRL) – Paranoá;
– Hospital Regional do Gama (HRG);
– Hospital Regional de Sobradinho (HRS);
– Hospital Regional de Planaltina (HRPL);
– Hospital Regional de Santa Maria (HRSM).
Principais sintomas:
Bronquiolite
– Falta de ar;
– Dificuldade para respirar;
– Chiado no peito;
– Boca e ponta dos dedos adquirem uma aparência azulada (cianose, causada pela falta de circulação de oxigênio no sangue);
– Tosse;
– Febre frequente;
– Fadiga;
– Respiração rápida.
Gripe
– Febre acima dos 38°C;
– Dores no corpo, em especial nas costas e nas pernas;
– Dor de cabeça;
– Tosse seca;
– Dor de garganta;
– Coriza;
– Cansaço;
– Mal-estar.
Covid-19
– Tosse seca e persistente;
– Febre alta, acima de 38ºC;
– Cansaço excessivo;
– Dor de cabeça;
– Coriza ou nariz entupido;
– Alterações do trânsito intestinal, principalmente diarreia;
– Inflamação na garganta;
– Perda de olfato e paladar.
Pneumonia
– Tosse com catarro;
– Febre alta;
– Falta de ar;
– Dor no peito;
– Dor nas costas;
– Sensação de peito carregado;
– Respiração acelerada;
– Mudanças na pressão arterial;
– Mal-estar generalizado;
– Cansaço e fadiga.
Pneumonia viral
– Dificuldade para respirar;
– Febre;
– Dor de cabeça;
– Tosse seca;
– Dor muscular;
– Fraqueza;
– Fadiga;
– Náusea;
– Ansiedade.
Laringite
– Dor de garganta;
– Sensação de que há algo na garganta, como uma coceira;
– Rouquidão;
– Perda da voz;
– Dor ao engolir;
– Febre;
– Tosse;
– Pigarro (irritação);
– Sensação de garganta seca.
Fonte: Rede D’Or
*Estagiário sob a supervisão de José Carlos Vieira
Por Arthur de Souza, Caio Ramos do Correio Braziliense
Foto: Kayo Magalhães/CB/D.A Press / Reprodução Correio Braziliense