Pacientes da ala de saúde mental do Hospital Universitário de Brasília (HUB) tiveram um dia especial. Uma vez a cada mês, na terça-feira, ocorre um momento de integração entre quem faz tratamento e cães de assistência do Instituto Brasiliense de Intervenções Assistidas por Animais (IBIAA). Os encontros são feitos para promover bem-estar físico e mental, além de ajudarem no processo de adaptação e recuperação dessas pessoas. O projeto foi criado em 2016, então com o nome Pet Amigo, para promover essa interação com adultos e crianças que sofressem com diferentes enfermidades no campo físico e mental. Hoje, as atividades incluem visitas ao Hospital de Apoio de Brasília, ao Hospital Materno Infantil de Brasília (Hmib), além do HUB, e a algumas escolas com alunos neurodivergentes.
As atividades com os doguinhos são pensadas para manter um ambiente sem riscos para ambas as partes. Socorro Martins Lima, de 67 anos, psicóloga do instituto, explica que, nos atendimentos na ala de saúde mental do HUB, por exemplo, são levados apenas cachorros de grande porte. “Caso aconteça algum descontrole por parte do paciente, os cachorros são mais resistentes e conseguimos estabilizar a situação. Com um cachorro menor, pode ser que não aconteça”, diz a psicóloga.
A parceria entre o HUB e o IBIAA teve início em 2022, logo após a pandemia. Esse período de isolamento prejudicou o instituto, que teve que passar por uma reformulação, mudando, inclusive, o nome. “Perdemos muitos cachorros. É um processo demorado, mas estamos conseguindo reformular e expandir o projeto para atender outros locais”, destaca Socorro.
Ela observa que o comportamento dos pacientes muda após a interação com os cães voluntários. “Eles ficam mais alegres, mais calmos e apresentam um comportamento mais feliz. Outro fator crucial dessas visitas é a mitigação da dor”, acrescenta. Socorro relembra de casos nos quais a visita tranquilizou e fez com que a dor em pacientes infantis diminuísse. “Com a presença dos cães, essas crianças que estavam com dor conseguiram ficar mais calmas e até dormir, sendo que elas apresentavam dificuldade”, comenta.
Vidas marcadas
Alexia Torres, 28, tutora de Saphira, relembra o início de sua jornada no instituto. “Eu já sentia essa vontade de ajudar os outros na faculdade. Procurei o IBIAA para saber como participar, mas, à época, eu não tinha carro. Assim que comprei, entrei”, conta. Emocionada, Alexia fala da importância dessas interações. “Ver essas pessoas felizes ao receberem essa visita é muito bonito. Só de levar um pouquinho de alegria e esperança para eles, faz tudo valer a pena”, celebra.
Uma das experiências mais marcantes para Alexia foi uma visita que fez a um paciente oncológico em estado terminal. “Era uma situação muito séria. Ele (o paciente) estava muito triste. Quando ele viu a Saphira, começou a chorar de felicidade, de poder relembrar os cachorros dele. Isso mexe muito com a gente”, completa.
Gabriela Santos, 25, participou pela primeira vez do projeto. A felicidade estava estampada em seu rosto. “Foi um momento muito bom e me lembrou do meu antigo cachorro, Tico, que me ajudava muito quando eu era mais nova”, recorda. Gabriela sempre amou animais, e dividir essa experiência com outros pacientes foi algo único. “A sensação que dá é de bem-estar, de calma. Dizem que os cachorros conseguem curar aquilo que a gente nem sente. Eu fiquei encantada”, acrescenta.
Com a visita e a roda de conversa, Gabriela avalia que teve mais noção da importância da boa criação canina. “O tutor não precisa criar o cachorro de forma limitada. É importante a pessoa saber tratar e se comunicar com os animais, porque eles também sentem. Felizes, eles conseguem ajudar os donos também”, analisa.
Para Josie Septimio, psiquiatra do HUB, neste momento, não há como mensurar os níveis de melhora dos pacientes, mas, de toda forma, percebe-se que o resultado é positivo. Apesar de não termos feito um trabalho de pesquisa, é possível perceber como os pacientes ficam felizes e mais calmos”, afirma. Ela cita como exemplo uma pessoa que estava catatônica — quando o paciente pode apresentar sintomas como imobilidade, rigidez, mutismo ou inquietação e atividade motora excessiva —. “Esse rapaz não interagia com ninguém, mas assim que os cachorros chegaram, começou a interagir com eles”, relata.
Cuidados
Há um processo para que os cães possam atuar como na instituição, incluindo uma seleção entre os voluntários. Socorro enfatiza que a higiene e a saúde dos cães é levada muito a sério. “Todos os tutores devem apresentar o caderno de vacinação para comprovar que eles estão aptos para interagir com os pacientes. Além disso, um dia antes da visita, todos tomam banho. Fazemos isso para garantir que ninguém seja contaminado”, explica.
Há 10 animais voluntários no IBIAA, número que pode aumentar a partir do programa de cães trainees. Nessa seleção, o tutor voluntário visita os locais de serviço. Após esse primeiro contato, os cães vão aos hospitais para a equipe analisar a adaptabilidade. Cada cão é designado de acordo com sua adaptação. “Tem cachorros que não gostam de trabalhar com crianças por causa do toque e de puxões. Então, realizamos todo um trabalho para encaixá-los melhor”, ressalta Socorro.
Para a labradora Saphira, encarar o desafio foi fácil, segundo a tutora. “O processo de adaptação dela foi muito natural. Eu treino ela desde quando a peguei, com 35 dias. Então, ela cresceu adaptada a isso”, afirmou. A rotina também é importante. Como é um animal muito empático, Alexia a prepara antes de cada visita. “Eu brinco bastante de bolinha com ela antes, e dou um grande passeio para ela fazer as necessidades. Ela fica mais calma e preparada”, completa.
Mais informações sobre como participar do projeto estão disponíveis no perfil de Instagram @ibiaa_iaa.
Por Resenha de Brasília
Fonte Correio Braziliense
Foto: Bruna Gaston CB/DA Press











