Professor do Núcleo de Medicina Tropical da UnB, Gustavo Romero afirma que, nas fases anteriores da pesquisa, a vacina mostrou-se com bom potencial de produzir anticorpos contra o coronavírus.
Após ultrapassar a marca de 50 mil infectados e 500 mortos pelo novo coronavírus, o Distrito Federal está entre as unidades da Federação escolhidas para a promoção de testes da vacina contra a covid-19. A pesquisa sobre a imunização criada por uma empresa chinesa será coordenada pela Universidade de Brasília (UnB). A instituição aguarda a finalização das tratativas do Instituto Butantan, em São Paulo, com a Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa), além da definição dos detalhes técnicos e científicos da pesquisa, para dar início ao procedimento. Especialistas alertam que a vacina é a única saída para que sejam cessadas as medidas de restrição, já que a capital tem queda na adesão ao isolamento social.
Além de Brasília, os testes ocorrerão em São Paulo, no Rio de Janeiro, em Minas Gerais, no Rio Grande do Sul e Paraná, como anunciou o governador de São Paulo, João Doria (PSDB), ontem. A produção está a cargo da farmacêutica chinesa Sinovac Biotech e será testada em 12 centros de pesquisa do país, em 9 mil voluntários. A imunização está na terceira fase, ou seja, é testada em humanos. Caso seja aprovada, a Sinovac e o Butantan firmarão acordo de transferência de tecnologia para produção em escala industrial e fornecimento gratuito pelo Sistema Único de Saúde (SUS), no Brasil.
Ao Correio, o infectologista Gustavo Romero, coordenador da pesquisa no DF e professor do Núcleo de Medicina Tropical da UnB, detalhou como será a aplicação da vacina na capital. “O que posso informar, agora, é de que se trata de um produto vacinal, que se aplica em duas doses, com intervalo de 14 dias. Ela produziu resultados promissores na fase 2, que se chama de desenvolvimento. No caso, essa vacina tem o efeito de produzir anticorpos capazes de neutralizar o vírus”, revelou.
A execução do projeto contará com o apoio de equipes do Hospital Universitário de Brasília (HUB). Os detalhes sobre o número de pacientes que serão tratados e quem poderá receber a dose só serão definidos após a autorização da Anvisa. O Correio entrou em contato com a Vigilância Sanitária, mas, até o fechamento desta edição, não obteve retorno. “É uma preocupação da população do DF em saber quantas pessoas terão acesso. Estamos esperançosos e sabemos que isso é importante para a comunidade”, ressaltou Gustavo.
Desafio
O epidemiologista da UnB Walter Ramalho explica que, como as medidas de restrição falharam para conter o avanço da doença no DF, a vacina seria a única alternativa para que a população volte à normalidade — na segunda-feira, o governador Ibaneis Rocha (MDB) decretou estado de calamidade pública. “A principal questão do combate ao coronavírus é que temos uma grande parcela da população que teve o contato com ele, mas não desenvolveu doença. Essas pessoas sem sintomas que transmitem a covid-19 são o nosso principal gargalo, porque não temos condições de contê-las”, comentou.
Em relação à capital ter sido escolhida para iniciar as testagem, o especialista ressalta que isso se deve à capacidade de trabalho da UnB. “Um dos nossos pesquisadores estava trabalhando com o Butantan para desenvolver uma vacina para a dengue; portanto, tínhamos uma estrutura fácil de mobilizar para ir a campo”, explicou. Entretanto, em relação à quantidade de casos e óbitos, ele ressaltou que a situação atual é de alerta.
O epidemiologista avalia que, do Brasil, o GDF foi o primeiro a reduzir a mobilidade social, fato importante para evitar maior impacto da covid-19 no início da pandemia. Entretanto, Walter considera que a medida não conseguiu ser eficaz, pela falta de adesão da população. “É muito complexa essa retomada de atividades. Precisamos, primeiro, ver os dados de julho. Entendo as decisões do governo, por conta desse momento de grande impaciência na sociedade, mas acho uma pena que isso esteja acontecendo. Poderíamos contornar essa situação se todos estivessem juntos”, lamentou.
UTIs
Além da dificuldade em manter o isolamento, termina, amanhã, o prazo para o GDF informar a capacidade dos leitos de unidade de terapia intensiva (UTI) à Justiça Federal. Decisão assinada pela juíza Raquel Soares Chiarelli, da 21ª Vara Federal da Seção Judiciária do DF, intima o Executivo local e a União a demonstrar que há vagas, equipamentos, insumos e recursos humanos suficientes para a população. A determinação levou em conta a “iminência da liberação das restrições ainda existentes no DF”.
Levantamento da Secretaria de Saúde mostra que 72% das UTIs exclusivas para pacientes com coronavírus estão ocupadas. Somando as redes pública e privada, há 729 leitos e 525 internados. Em nota, a pasta informou que monitora a evolução dos casos diariamente e que o pico da doença está previsto para a primeira quinzena do mês. “É importante ressaltar que não é esperada uma explosão de casos, tendo em vista que, no DF, há um crescimento médio de casos diários de 5%, e esse crescimento tem se mantido constante”, informou.
A Secretaria de Saúde acrescentou que a evolução da capacidade de atendimento da rede acompanha a evolução de diagnósticos. E completou que investiu R$ 20 milhões na compra de equipamentos de proteção capazes de abastecer o sistema por seis meses.
Por Darcianne Diogo e Walder Galvão do Correio Braziliense com Informações de Sandra Barreto da Gazeta do DF