Diante do cenário de crise vivenciado pelas Lojas Americanas, o mercado típico da época de Páscoa pode perder força no Distrito Federal e no Brasil e afetar drasticamente a economia local. Os tradicionais ovos de chocolate vendidos nas filiais da empresa correspondem a grande parte da quantidade total comercializada na capital. Caso haja falência da empresa no período antecedente ou durante a Semana Santa, portanto, o fornecimento dos produtos deverá ser alterado – e, consequentemente, os preços.
De acordo com o presidente do Sindicato do Comércio Varejista do DF (Sindivarejista), Sebastião Abritta, ainda é cedo para afirmar o possível impacto, uma vez que o período de vendas da Páscoa ainda não começou. Por outro lado, é possível que a empresa já esteja com o planejamento de distribuição montado, em razão da grande quantidade de filiais que precisam ser abastecidas até o período de vendas iniciar.
“Ainda teremos que ver como ficará essa questão. Está um pouco cedo para falar disso. Ainda não sabemos como está sendo o processo de recuperação da empresa. O Sindivarejista visitou algumas lojas e tudo está ainda dentro da normalidade, bem abastecida”, destacou o presidente do Sindivarejista.
Em visita a algumas filiais das Lojas Americanas, a reportagem também não notou diferença perceptível de movimentação e quantidade de produtos nas lojas. Funcionários informaram que nos trâmites internos, não há mudanças de abastecimento ou gestão. “Tudo ainda está acontecendo normalmente. […] Até onde sabemos, os ovos devem começar a chegar em fevereiro. Não falaram de nenhuma alteração”, informou anonimamente um dos empregados da empresa.
“As pessoas estão com receio de serem demitidas, principalmente as mais velhas, que não tem tanta perspectiva de emprego quanto as mais novas. Mas oficialmente ainda não informaram nada sobre demissão, então não sabemos dizer como será para os próximos meses. Até então, tudo continua na normalidade”, explicou outro funcionário à reportagem.
Ainda segundo Abritta, em um possível redirecionamento de fornecedores contratados com as Lojas Americanas, a indústria de ovos de chocolate se dissiparia para outros pontos de venda na cidade, que assumiriam a demanda – principalmente dos chamados atacarejos, isto é, mercados que unem demandas tanto do atacado quanto do varejo dentro dos estabelecimentos.
Por mais que a quantidade de produtos da Páscoa seja redistribuída a outros estabelecimentos da cidade, é possível que ainda faltem pontos de venda para abarcar e assumir completamente o comércio das Lojas Americanas, segundo Abritta. “A rede é muito importante e tradicional no Brasil, mas aquele comércio que comprava menos vai passar a comprar mais, porque o giro de vendas será maior”, afirmou o presidente da entidade.
Preços mais altos
Devido ao rombo de mais de R$ 20 bilhões declarado pela empresa, que está em processo de recuperação judicial para evitar a falência, as Lojas Americanas já declararam que o valor dos ovos de chocolate deve aumentar ao longo do período da Páscoa.
“Apenas para elucidar o impacto do Grupo Americanas no setor varejista, vale mencionar […] que a crise do grupo pode afetar até mesmo o preço do ovo de Páscoa, pois se trata da maior varejista de ovos de Páscoa do mundo”, destacou a empresa em trecho de pedido de recuperação judicial enviado à 4ª Vara Empresarial da Comarca da Capital do Estado do Rio de Janeiro.
Carlos André Pires, 33, é um dos consumidores da capital que procura as Lojas Americanas para comprar os tradicionais ovos de chocolate durante o período de Páscoa. Diante da crise atual na empresa, ele tem a expectativa que os preços dos produtos encareçam neste ano. “A tendência é aumentar tudo [todos os outros produtos vendidos nas lojas], e acho que os ovos, quando chegarem, será do mesmo jeito, vindo com aumento”, disse.
“Daí farei uma pesquisa de preço em outros lugares. Onde estiver mais barato, compro”, continuou. Ele costuma comprar para os dois filhos sempre nas Lojas Americanas. “Pelo decorrer das coisas [na empresa e na economia do Brasil], estou achando que a situação vai piorar, apesar de querer que melhorem. Mas pelo que vejo, não melhora”, finalizou.
Por Redação do Jornal Brasília
Foto: Reprodução Jornal de Brasília