O Governo do Distrito Federal (GDF) tem estrutura e recursos necessários para atender toda a população durante a epidemia de dengue. É o que garantiu o subsecretário de Vigilância à Saúde, Fabiano dos Anjos. Em entrevista ao Correio, o gestor afirmou que a Secretaria de Saúde (SES-DF) monitora todos os casos, seguindo o protocolo de classificação do Ministério da Saúde.
De acordo com Fabiano dos Anjos, somente 3% dos pacientes que procuram atendimento na rede pública precisam de internação em unidades de tratamento intensivo (UTI). O subsecretário também alertou que a população precisa fazer sua parte no combate ao mosquito Aedes aegypti, pois 75% dos focos da doença estão dentro das residências.
A dengue é uma doença sazonal? Faltaram ações preventivas?
Quando a gente fala do cenário de uma doença que é sazonal, se espera que ela sempre aconteça, mas nas proporções que nós estamos tendo, hoje, não é fácil prever uma epidemia nessa extensão. E isso se deve a diversos fatores iniciados no ano passado, que de fato foram definidores desse atual cenário que a gente está vivendo hoje. Nós tivemos o El Niño, que é um fenômeno climático mundial, que fez com que todos nós sofrêssemos com uma onda de calor. Nós temos algumas especificidades aqui, no Distrito Federal, por exemplo, que é o processo de grande concentração de pessoas, principalmente nas regiões administrativas, quando temos a circulação de um sorotipo de dengue que não circulava no DF (o que surpreendeu). Além dos fatores climáticos, do novo sorotipo, dos fatores geográficos, existem os nossos hábitos, que favorecem a propagação do Aedes aegypti, como o descarte inadequado, o próprio lixo que a gente produz, os vasos de planta com água parada, etc.
O DF tem condições de combater toda essa epidemia? O GDF tem estrutura?
O GDF tem implementado toda uma estrutura, com hospital de campanha, com retaguarda do Ministério da Saúde, da União. Nós temos uma composição dos poderes institucionais e das Forças, como o Exército e Aeronáutica, compondo uma grande equipe de trabalho para darmos uma resposta à necessidade da população. Nós temos hoje nove tendas (além das unidades de saúde). Estamos fazendo um monitoramento diário do número de atendimentos, de casos notificados, de pessoas que estão dependendo de uma UTI. Então tudo isso é organizado para que a gente consiga fazer girar leitos de UTI para essas pessoas.
O que se pode fazer para dar um conforto a esses pacientes que procuram atendimento?
A dengue é uma doença em que boa parte das pessoas podem ser contaminadas, mas não vão apresentar os sintomas. Das que terão sintomas, a gente tem um quantitativo que vai apresentar sinal de alarme e de gravidade. Nós temos um protocolo do Ministério da Saúde, que se chama manejo clínico, e ele faz uma classificação da dengue em pelo menos quatro estágios que seria, por exemplo, o A, que é o paciente que chega na unidade com sintomas, mas não tem sinal de alarme no atendimento, mas que são hidratadas e medicadas. Mas é importante destacar que orientamos todas as pessoas que apresentarem dor de cabeça, acompanhada de febre, dor no corpo, dor muscular, dor nos olhos — esse vírus é um vírus que tem uma atração pela célula cerebral, então essa dor de cabeça vai ser característica — que procurem as unidades de saúde. Temos o protocolo para fazer a condução clínica desses casos. Falamos isso na segurança de que grande parte das pessoas que estão ali, serão orientadas a fazer hidratação oral; e aquelas que vão receber hidratação venosa, o soro na veia, (e atendimentos especiais) são aquelas que serão classificadas como pacientes D.
Tem fumacê suficiente para todas as regiões administrativas?
A Secretaria de Saúde possui 28 carros de fumacê e fizemos uma parceria muito importante. O Governo do Distrito Federal (GDF) solicitou o apoio do Exército Brasileiro. Houve um treinamento de 247 militares do Exército que foram preparados para fazer o trabalho de visita domiciliar, que é o trabalho feito também por agentes de vigilância ambiental. Temos hoje 18 motoristas da Secretaria de Saúde que fazem esse trabalho (no fumacê) e mais 10 do Exército, que também complementam essas ações. Estamos também no processo de contratação de mais 10 servidores.
É necessária a contratação de mais agentes de vigilância ambiental para a força-tarefa contra a dengue?
Nós temos no nosso quadro cerca de 700 agentes, e por conta desse déficit que se fez um concurso. O nosso desafio hoje é chegar a mais de 850 agentes de vigilância.
Quando uma região é considerada com alta incidência de casos?
Quando a gente fala maior número de casos é por 100 mil habitantes. Então termos uma incidência significativa. Por exemplo, em 600 casos para cada 100 mil habitantes é considerada acima daquilo do que classificaríamos como um canal endêmico.
Qual o panorama mundial?
A dengue é considerada endêmica nos países tropicais, principalmente, e, desde de outubro do ano passado, a Organização Mundial de Saúde (OMS) soltou uma nota alertando que em diversos países do mundo, que não haviam tido registro da dengue, começaram também a ter. Por exemplo, a Itália, Espanha e França, que são países não endêmicos para dengue e tiveram relatos autóctones, que são casos registrados dentro da própria região. Então há uma estimativa de que pelo menos 4 bilhões de pessoas tenham sido contaminados, isso significa que metade da população mundial está em risco de se infectar pela dengue. E quando a gente traz esse cenário para as Américas, nós tivemos no ano passado um surto muito importante no México e também no Peru.
Com a volta às aulas, tem alguma ação para levar a campanha de vacinação contra a dengue às escolas?
A estratégia de vacinação em escolas não pode deixar de ser uma estratégia viável. Nós começamos agora a nossa campanha, aplicando as doses nas Unidades Básicas de Saúde (UBS) e, claro, que para você vacinar uma criança menor de idade é necessário que haja o consentimento dos pais ou responsáveis. Existe essa possibilidade. A nossa estratégia agora é fazer a gestão da vacina que nós recebemos.
Os idosos são um público com mais riscos? Como orientá-los para evitar contaminação?
A dengue tem as suas particularidades, quando falamos de extremos de idade, seja crianças, seja idosos, além de pessoas que têm comorbidades e gestantes, são públicos que sempre requerem um alerta maior. O manejo adequado dos sintomas nessas pessoas sempre vai requerer um cuidado diferenciado. Com relação à parte mais assistencial do manejo clínico, a gente tem focado muito na informação de que, ao apresentar sintomas característicos da dengue, a pessoa procure o mais rápido possível a unidade de saúde mais próxima de sua residência. Também é fundamental manter uma hidratação nesse processo. Esses públicos pela literatura têm um risco maior.
A gente tem a proporção de quantas pessoas vão chegar no estágio grave da doença?
A estimativa é de que pelo menos 25% dos casos vão precisar de uma hidratação venosa. E, desses 25%, a gente vai ter um número de, por exemplo, 3% que pode vir a precisar de uma UTI, que são os classificados como D (de acordo com o protocolo do Ministério da Saúde). A maior parte dos pacientes apresentam sintomas mais leves da doença.
Por Arthur de Souza, Mariana Saraiva, Mila Ferreira do Correio Braziliense
Foto: Marcelo Ferreira/CB/D.A Press / Reprodução Correio Braziliense